sábado, 19 de janeiro de 2013

Depois da noite de temporal

     Quando amainou a tempestade, a meio da tarde...


      Chegou o tempo de sair, depois de tanto tempo fechado em casa. O inverno tem sido rigoroso e uns tímidos raios de sol podem ser razão forte para a saída desejada.



     DEPOIS DO TEMPORAL

     Espetado por minúscula areia,
     carregada num vento frio e fino,
     caminhava a passo resiliente,
     resguardando-me da invasão.

     Por momentos cedia ao ataque,
     ensinando o caminho ao diabo.
   
     Via, então, a praia varrida,
     como se uma mão tivesse alisado
     os sulcos do areal, agora plano.

     Na rua, o chão ainda húmido
     fazia sentir por baixo, nos pés,
     pequenas serranias - coladas
     a um piso onde havia pegadas
     que a praia perdeu. Apagadas.

     No pavimento dos transeuntes estão
     os sinais de um temporal que o mar
     mantém vivo na altiva ondulação,
     sobre as possantes pedras, a rebentar;
     a cobrir os molhes sem defensão.
 
     Regresso a terra, a casa.

     Há um sinal de trânsito que se rendeu:
     caiu desamparado. Está deitado
     com o rosto no empedrado. Emudeceu.

     O vento não tem sentidos proibidos.

     Estes são também os sinais do tempo.

     E não se pode dizer que não sejam deste tempo.

4 comentários:

  1. Afinal, nem tudo se perdeu com o vento...

    Este poema é o final feliz de um dia de temporal. Um final feliz como todos os finais felizes que nascem da subversão, da liber(dade)tação, pois "O vento não tem sentidos proibidos"! Grande verso este!

    bjinho

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  2. A felicidade do momento e a da produção são discutíveis, mas é curioso que digas que há um grande verso!
    Foi por esse que comecei a escrita e acabou por ser aquele com que fechei o texto. Liberdades compositivas de autor.
    Obrigado pelo comentário.
    Bjinho

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  3. Também acho fantástico este verso. Um grande final, num passeio com muitos ventos a favor e contrários. Tal como a Vida.

    Beijinho

    M.

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  4. Obrigado, amiga.
    Reconheço que há um sopro de vida poética nesse verso, que veio ter comigo tão naturalmente quanto o encontro havido com o sentido proibido caído no chão.
    Beijinho.

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