quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Um exemplo de homem para uma emenda exemplar

       "Lincoln" é título de filme, estreado hoje no circuito de cinemas nacionais - no último dia de um mês que viu nascer, há cerca de 150 anos, uma emenda histórica para os Estados Unidos da América (EUA).

       No caminho para a potência que os EUA hoje são, a expansão e o crescimento vividos na primeira metade do século XIX não estiveram livres de um período de disputas intensas. Os barcos a vapor fluviais, os caminhos de ferro, as linhas telegráficas e as vantagens daí decorrentes conviveram num conflito ideológico profundo entre os estados do Sul e os do Norte. Os primeiros (sobre)viviam e sustentavam-se de um sistema apoiado na escravatura; os segundos, primavam pelo princípio de que todo o Homem era livre. A crescente aproximação geográfica promovia, progressiva e emergentemente, a discussão sobre a ideia a fazer prevalecer, na reduzida possibilidade de se estabelecer um compromisso comum. A cada novo território incorporado, à medida que o "Go West" se concretizava, crescia o campo de batalha entre as duas cosmovisões: ou tornar-se um estado de cidadãos livres ou constituir-se como estado que aceitava o trabalho escravo.
      Desde o ano de 1833, a sociedade antiesclavagista americana não se limitou a resistir ao movimento expansionista; ao invés disso, procurou promover a abolição completa da escravatura por todo o país. A questão agudizou-se com a admissão do Texas à União: o Texas fazia parte, originalmente, da república do México e, segundo a lei mexicana, a escravatura era proibida; contudo, os sulistas reclamavam o novo e extenso estado, acabando por o conseguir.
    Oponente declarado à expansão da escravidão nos Estados Unidos, o presidente Abraham Lincoln viu o Sul afastar-se da União. Acabou, assim, por dedicar grande parte do seu mandato a combater os estados separatistas (Carolina do Sul, Mississippi, Florida, Alabama, Georgia, Louisiana e Texas, também designados Estados Confederados da América, liderados por Jefferson Davis) com a conhecida "Guerra da Secessão". 
    A vitória da União nesta guerra civil acompanhou a introdução de medidas que levaram à promulgação da Proclamação de Emancipação em 1863 (a 1 de janeiro)  aprovando a Décima terceira emenda da Constituição dos Estados Unidos da América: abolia-se a escravatura em todo o território confederado ainda em Guerra Civil. Dois anos depois, e com o final da "Secessão", o sistema esclavagista, nos EUA, era ilegal.


      É este o contexto histórico que aparece retratado num filme com a assinatura do conceituado Steven Spielberg. Com doze nomeações para Óscar (melhor filme, melhor ator principal, melhor ator e atriz secundários, melhor realizador, entre outros), o décimo sexto presidente dos EUA é relembrado nas ideias e nos atos que o marcaram para a posteridade, particularmente nos quatro últimos anos (1861-185) para não dizer nos últimos quatro meses, pouco antes de ter sido assassinado por ator (às vezes, o teatro invade a vida, traindo-a no que tem de maior conquista).
    Fortemente argumentativo nos discursos apresentados, a película representa todo um jogo ardiloso de interesses e de motivações políticas necessários a uma arena que assiste e vive uma grande conquista, feita não só de perversões, concessões, estratégias mas também do lado humano, diplomata, visionário e idealista de um homem que liderou um período marcante da história. A par dele, outros também revelam o que os move - alguns, razões de foro corporativo e associativo, numa visibilidade social apostada em questões exclusivas de força e de poder; outros, escolhas e causas que lhes dão felicidade individual e que pode trazer vantagens ao mundo.

        No balanço positivo do filme, fica ainda o pensamento de como as grandes causas não deixam de ter sempre um lado mais estranho e menos aceitável - pequenos defeitos de percurso que não comprometem o todo da meta; de como a luta contra a escravatura é causa com sentido e que já havia sido pioneiramente abolida pelos portugueses (na segunda metade do século XVIII, com Marquês de Pombal) à data do pensamento de Lincoln.

2 comentários:

  1. É caso para dizer: estou preparada/motivada para ir ver o filme.
    Nos últimos tempos, tem havido, felizmente, uma série de bons filmes. Ou será o diálogo antes e depois de os ver que (me) ajuda a prestar-lhes mais atenção?

    Um beijinho
    M.

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  2. É verdade.
    Há épocas em que se quer um filme e... nada!
    Agora há uma lista infinita deles a não perder. Mas, convenhamos, o diálogo aguça sempre o apetite, quanto mais não seja pela companhia nele impicada bem como na assistência do filme.
    Graças ao diálogo e à companhia é que dá para suportar algumas aventuras cinéfilas (particularmente aquelas em que somos impedidos de as ver!)
    Beijinho.

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