A bem do que possa vir a ser.
Entre o que Vieira profetizou e Pessoa reconstruiu, não me fico por um nem por outro. Estou com a obra feita, e que bem conheço. Por isso a recomendo. Não é o mito que marca a História do Futuro vieirina; não é a expressão pessoana dessa utopia, dessa inconsciência ou dessa imaterialidade ansiada, feita de sonho e de espírito, encoberta e messiânica, na busca de uma idealização universal e humanista. Ou talvez seja tudo isto no título de um livro bem familiar aos olhos deste leitor, que vê um amigo de um dos autores destacados numa livraria conceituada:
Quinto Império: Profecia de Perdição, de Manuel Maria, na Bertrand (Alameda, Porto)
À entrada da Bertrand, numa mesa que exibe publicações recentes, lá está o Quinto Império: Profecia de Perdição. Vê-lo ladeado de títulos de Germano Silva, Don(ald) DeLillo, Tiago Salazar, entre outros autores mais ou menos reconhecidos, é um sentido de felicidade que reflete não só amizade mas também escrita narrativa de qualidade.
Na senda inspiradora de Cinco Palavras de António Vieira (2020), retoma-se essa figura tutelar da arte prédica seiscentista, recuperada como protagonista neste mais recente romance de Manuel Maria. Aqui se cumpre o percurso de vida final do orador e escritor barroco - autor da Clavis Prophetarum (Chave dos Profetas); aqui se aborda a sua utopia identificada como "Reino de Cristo Consumado na Terra". Ideias tão contemporâneas como a de um mundo sem fronteiras, com "todos iguais, todos diferentes", em diálogo inter-religioso e intercultural aparecem conjugadas numa intriga, onde não falta o "polvo" inquisitorial prestes a "abraçar" traiçoeiramente um dos seus. Assim se faz a aproximação à perdição, a essa condição de perseguido de que o Papa libertou Vieira.
Um romance a conhecer, para que "Payassu" não caia na lei da morte nem nas garras de um preconceito feito de ignorância.
Com a chancela da editora Lugar da Palavra, esta é uma obra apoiada pela Direção Geral dos Livros, dos Arquivos e das Bibliotecas (Ministério da Cultura).
Os meus amigos são gente anónima que não ocupa espaço público a não ser talvez nos transportes, supermercados, centros de saúde e etecetera. Mas, se um deles cantasse, escrevesse ou se salientasse por qualquer qualidade, isso enchia-me de orgulho e talvez fizesse como Isabel Allende que quando pela primeira vez viu o seu livro inaugural na mão de um senhor com quem cruzou na rua, correu atrás dele muito entusiasmada a gritar fui eu que escrevi, fui eu que escrevi. E quando por certo ele pensou que ela era uma maluca, sugeriu-lhe, veja a foto na contracapa, sou eu. Pois eu faria semelhante escabeche por um amigo. Toda contente do merecimento. Daí que compreenda muito bem o post. Mesmo sem ter lido o livro.
ResponderEliminarBoa sorte para o autor.
Obrigado pela mensagem e pela compreensão demonstrada.
EliminarPara os amigos, queremos sempre o melhor.
Feliz pelo merecimento, desde logo, no lugar de destaque dado ao romance, no expositor de entrada da livraria. O Manel merece.
Caríssimo Vítor, que mais te pode dizer este teu amigo que, na singularidade da sua condição humana, com virtudes e com defeitos, é tão anónimo como esta “gente anónima que não ocupa espaço público a não ser talvez nos transportes, supermercados, centros de saúde e etecetera”? Apenas que reitera, publicamente, a gratidão que te é devida e a amizade que, sendo recíproca, se há de perpetuar no tempo. É um privilégio de que não prescindo.
ResponderEliminarQue o meu abraço consiga abarcar o inefável alcance de todas as tuas palavras.
Manuel Maria
Felizmente para mim, não és anónimo e vales mais do que qualquer conceituado contemporâneo com quem não me cruzei nesta vida (nem pessoalmente nem com a obra).
EliminarAmbos vivemos privilégios de que não prescindimos. Ainda bem.
Forte abraço.
Até breve.