... vêm as saudades do verão.
Nada como o frio para virem aquelas expressões tão típicas que o caraterizam na língua.
Os franceses falam do tempo frio e cinzento (gris), mas connosco "Está cá um griso que nem te passa!". Costuma dizer-se que "Deus dá o frio conforme a roupa, mas mais a quem tem pouca" - em versão mais reduzida, ficamo-nos por "Cada um sente o frio conforme a roupa" ou "Dá Deus o frio conforme a roupa" (ficando ao homem a escolha desta última, diga-se, para que Ele não seja responsabilizado por determinismos ou injustiças sociais).
"Que briol!" ou a versão "Que barbeiro!" não são menos populares, bem mais intensos na frialdade e na invernia, quando acompanhadas de vento.
Quem tem brio não tem frio?
Tem sido isto (ou próximo) nos últimos dias, com a acentuada queda nos valores da temperatura.
Lá se foi o verão! Mesmo que se diga "Em (fins de) Agosto dá o frio no rosto", não é o mesmo sentido de sensação. O de novembro e o de dezembro chegam a doer, a gelar, a 'cortar' na pele. Por isso é bom aquecer as mãos nas chávenas, usar os carapins nos pés, proteger as orelhas com o carapuço (até a máscara, tão escusada, resguarda lábios e nariz). Não sejam os alarmismos "amarelos" e "laranjas" com que nos brindam, estão aí os sinais de um outono comum a anunciar inverno.
"Ande o frio por onde andar, no Natal vem cá parar". Já não estamos longe, portanto. Assim que passar o ano poderá dizer-se "Chuva em janeiro e sem frio vai dar riqueza ao estio"; ainda assim, e à cautela, bom é que se saiba: "Janeiro frio ou temperado, passa-o enroupado". Não vá o Diabo tecê-las e entre "Noite fria, dia quente, fica o homem doente" (e a mulher, também). Digamos que é princípio válido para qualquer altura do ano. No que toca a frio, este existe em todo o tempo, a todo o mês. Há mesmo quem defenda março friorento e ventoso como condição necessária e virtuosa: "Janeiro geoso, fevereiro nevado, março frio e ventoso, abril chuvoso e maio pardo fazem o ano abundoso".
Como nem tudo é frio, vento, chuva ou neve, pense-se no calor, na primavera e no sol, que dizem fazer bem à pele (na dose certa). Certo é que, na moderação, "Guarda do calor o que guardas do frio", até porque "Quem não anda por frio e por Sol não faz seu prol". Não é de espantar, por isso, o conselho de proteção: "Usa sempre cobertor, faça frio ou calor".
À falta de outro calor, viva-se o que de mais humano há e brinde-se com as malgas da sopa (é sempre uma forma de celebrar convívio, amizade e de tornar os corações bem mais quentes, fazendo esquecer algumas agruras da vida ou outros corações que não aquecem).
Olá, Vítor!
ResponderEliminarQuem me dera ter a meu lado o muito célebre Carioca, que me ajudaria a responder-te com provérbios, mas este não deixa de se passear pelas Contas de um outro Rosário ( http://carruagem23.blogspot.com/2007/06/contas-de-um-outro-rosario-feito-de.html )…
Quanto ao facto de alguém brindar com malgas de sopa, sou totalmente solidário: “é sempre uma forma de celebrar convívio, amizade e de tornar os corações bem mais quentes, fazendo esquecer algumas agruras da vida ou outros corações que não aquecem.”
Brindemos a esta nossa crença na amizade e celebremos o aconchego dos convívios! Numa das mãos, a malga da sopa; na outra, o tinto do Douro ou do Alentejo (à temperatura dos nossos corações), ou mesmo o branco, que há sempre quem o prefira… É um direito, não uma tolerância.
O meu enorme abraço.
Manuel Maria
Duplo tchim-tchim (que, com malga de sopa, soa mais a tchoc-tchoc)!
EliminarForte abraço.
VO
Booommmm....fez um périplo pelos provérbios e ditos sobre o frio que "fáchavôr".
ResponderEliminarMas tem o senhor muita razão. Se anos houve em que andávamos "à cata do frio", o tal que, de acordo com o ditado, pelo Natal havia de chegar, mas até nem chegava. Pois se isso aconteceu noutros anos, este prometeu e cumpriu, já cá estão os dias pardos e as noites gélidas. Mas Deus não dá frio conforme a roupa. Nem a roupa conforme o frio. Infelizmente.
É um facto, as sopas reanimam. E sabem bem no tempo frio.
Eu diria à moda do Porto: "Fachabôr"!
EliminarÉ por estas e por outras que, no périplo, pus a mantinha nos pés e dediquei-me à pesquisa.
Há provérbios que têm de ser lidos na sua relativização plena, por mais que sejam consabidamente entendidos como verdades gerais. Não o são, garantidamente.
Vou à sopinha!
Obrigado pela mensagem.
Cumprimentos.