quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Onde o mar começa...

      No ciclo da água, as nuvens dão em oceano (ou este tem muito delas).

      Se, por definição, as nuvens são acumulados visíveis de partículas diminutas de gelo ou água no seu estado líquido, ou a mistura simultânea de ambas, capto-as em foto para ver que o mar começa onde a nuvem acaba. Assim se faz um oceano: com aquilo que a nuvem dá. Por isso, esta, suspensa na atmosfera, após condensação, ou liquefeita, segundo fenómenos atmosféricos, é uma extensão dos tons do mar:

Areal de Bocamar, espraiado entre dunas, nuvens e oceano - I (foto VO)

Areal de Bocamar, espraiado entre dunas, nuvens e oceano - II (foto VO)

       Em "Mar Português", Pessoa escreveu que "Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu." Por vezes, o espelho fica baço, sem o brilho que lhe é próprio. Ainda assim, seduz, por essa amplidão que, do mar ao ar, se pinta de algodão, de flocos a esvoaçar até que as cores do perigo e do abismo se insinuam. Altivos, densos e escuros, lá estão eles a impressionar, num sinal do desconcerto e desarranjo do universo, onde parece ver-se ondas no ar ou um mar de nuvens.

       Ao longo do percurso pelo passadiço, vive-se um final de tarde bem outoniço.

2 comentários:

  1. Bonito mas inóspito esse mar de proximidade quase contígua entre nuvens e a força da água. Imagino o vento fresco e salgado que envolve os raros caminhantes e a tristeza do dia se as nuvens resolvem abraçar-se umas nas outras. A beleza tem muitas faces.

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  2. Garantidamente, um vento fresco! E quando é nortada... nem é preciso ter as cores da foto. É deveras desagradável, nomeadamente quando os pequenos grãos de areia voam a picar o corpo.!
    Obrigado.
    Cumprimentos

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