Num contexto de perguntas, dúvidas e pedidos de esclarecimentos, responder em rede e em cooperação dá sentido (etimológico) ao próprio verbo 'corresponder'.
Q: Na frase "Neste último caso, o apoio pode corresponder a uma poupança por parte dos pais", a expressão "a uma poupança" desempenha a função sintática de CD ou CI? Parece-me que o verbo corresponde pode ter um sentido duplo, ou seja, uma coisa é 'a corresponder a b', sendo que o sujeito corresponde a um resultado, diga-se assim; outra coisa é o sujeito corresponder, por exemplo, aos sentimentos de alguém. Na frase, esta distinção não se verifica. Posso dizer, "O Pedro corresponde aos sentimentos da Joana". Em ambas as situações a função sintática introduzida pela preposição é a mesma?
Desde logo, creio que é possível substituir no primeiro caso a expressão pelo pronome forma CI - lhe. Porém, também é possível substituir a expressão por "a isso"...Não consigo libertar-me das dúvidas...
R: Não vejo gramaticalidade possível na anaforização de "... o apoio pode corresponder a uma poupança por parte dos pais" por "o apoio pode corresponder-lhe" (teste associado à construção com complemento indireto).
Se, no latim, o caso dativo correspondia a complementos preposicionados (designados como indiretos, por serem mediados de preposição, tal como aparece na Nova Gramática do Português Contemporâ-neo, de Lindley Cintra e Celso Cunha), nos estudos linguísticos portugueses mais atualizados a referência a dativo circunscreve-se a casos típicos de complemento indireto (pronominalizáveis por lhe/lhes, na terceira pessoa).
Segundo a construção frásica proposta, a entidade 'apoio' corresponde à entidade X, um objeto (o que também poderia ser configurado por 'O apoio equivale a X'). Nesta medida, a lógica sintática é a de uma estrutura assente num verbo transitivo indireto, com a estrutura argumental de um sujeito para um predicado com complemento oblíquo: o apoio corresponde a quê? / o apoio corresponde a isso). Outras realizações com o verbo 'corresponder' poderão apontar para outras funções sintáticas, embora esta realização transitiva indireta seja a mais comum (quer com a seleção da preposição 'a' quer com a da preposição 'com').
Antevejo apenas a realização de 'corresponder' a selecionar complemento indireto em situações de redução de transitividade, ou melhor de reconfiguração da transitividade, com aquilo que se tipificou como sendo 'dativus commodi / incommodi' (realizações especiais de dativo, isto é, associadas à entidade com proveito / detrimento da situação denotada pelo verbo). É o caso de 'A Joana corresponde aos afetos do Joaquim' (só para não ser os clássicos Maria e João!). Transformando a sequência de complementação, seria possível obter o enunciado 'A Joana corresponde ao Joaquim (nos afetos)' > 'A Joana corresponde-lhe'.
Assim se compõe um caso de estrutura argumental típica e de consideração de realizações sintáticas derivadas, com possibilidade de reconfiguração e/ou alteração/transformação/redução de transitividade. Casos para estudo e não para abordar à luz da regularidade e/ou sistematicidade gramatical.
Muito gosto dos verbos regidos pela preposição “a”! Dão sempre muito que pensar e exemplo disso é o caso que aqui se aborda.
ResponderEliminarHá dias , discutia-se uma frase que suscitou algumas dúvidas- “O Pedro atribui grande importância aos afetos”. O segmento “aos afetos” parecia-nos pacífico. É complemento indireto, porque pronominalizável por “lhes”. Mas alguém sugeriu que também poderia ser substituível por “a isso” e, aplicado o teste da questionação, responderia à questão “a quê?”. Parecia mais oblíquo… Parecia!
De qualquer modo, depois do que aqui li e cruzando com a explicação de Segunda-feira, 29 de Outubro de 2012, percebi que, nestes casos, o “latinzinho” que é a basezinha tem o seu peso (ainda!) e ajuda a resolver dilemas bem modernos.
Pena é que sirva para umas situações e não para outras! Enfim, não consigo conformar-me que, de acordo com o dicionário terminológico, na frase “Eu estou em casa”, “em casa” seja predicativo de sujeito, função que, no tal “latinzinho”, se apresenta no caso nominativo. Porém, se algum aluno tivesse que a verter para essa língua, mãe da nossa, muito se espantaria. Afinal, o caso era outro! (Se bem me lembro ablativo!)
Mistérios da sintaxe!
Mas ainda bem que nesta carruagem se viaja pelas palavras de agora e de outrora e se procuram convergências!
Bjinhos
IA
Ai, ai, ai que a menina não anda atualizada!
ResponderEliminarAgora não se fala em regência. Fala-se em seleção!
"Os verbos que selecionam preposição" é que deve ser!
Ai que o pessoal anda a discutir coisas e eu não vejo!
Bjinho.
Peço desculpa, mas eu gosto muito da monarquia! :-)
ResponderEliminarIsto da seleção cheira-me a interferência da teoria da evolução, ou então, da linguagem ou gíria futebolística.
Como costumo dizer aos meus alunos, um pouco na "brincadeira", o verbo é o treinador(se quiserem,treinador da seleção nacional): é ele quem seleciona quem "joga" na frase!
bjinho
IA
Hei lá!
EliminarTu tem cuidado, rapariga, que em tempos de República ainda te sai um 31 (não sei se de janeiro)!
Ora, como tu bem dizes... SELECIONA! Lá está!
GANDA GOLO!
Inté.