Deve ser sinal dos tempos, quando a coesão (pelo menos em termos políticos) está demasiado comprometida.
Q: Pedia-te o favor de me esclareceres uns aspetos sobre coesão com os exemplos que apresento de seguida:
1) “A ideia, ao servir-se da emoção para se exprimir em palavras, contorna e define essa emoção, e o ritmo, ou a rima, ou a estrofe, são a projeção desse contorno (…)”
a) “essa emoção” – Tipo de coesão: referencial (?)
Mecanismo ativado: anáfora nominal?
ou
Tipo de coesão: lexical
Mecanismo ativado: repetição/reiteração
b) “desse contorno” – como designar aqui o tipo de coesão?
Eu sei que retoma a ideia de contorno; no entanto, o referente é dado sob a forma de verbo (“contorna”).
2) Fernando Pessoa escreveu uma obra plural. O poeta dos poetas é reconhecido em todo o mundo.
a) Tipo de coesão: referencial (correferência não anafórica?)
Coesão lexical por substituição?
b) E se a segunda frase fosse “Esse poeta dos poetas é reconhecido em todo o mundo”?
Qual seria o tipo de coesão presente no segmento sublinhado?
1) “A ideia, ao servir-se da emoção para se exprimir em palavras, contorna e define essa emoção, e o ritmo, ou a rima, ou a estrofe, são a projeção desse contorno (…)”
a) “essa emoção” – Tipo de coesão: referencial (?)
Mecanismo ativado: anáfora nominal?
ou
Tipo de coesão: lexical
Mecanismo ativado: repetição/reiteração
b) “desse contorno” – como designar aqui o tipo de coesão?
Eu sei que retoma a ideia de contorno; no entanto, o referente é dado sob a forma de verbo (“contorna”).
2) Fernando Pessoa escreveu uma obra plural. O poeta dos poetas é reconhecido em todo o mundo.
a) Tipo de coesão: referencial (correferência não anafórica?)
Coesão lexical por substituição?
b) E se a segunda frase fosse “Esse poeta dos poetas é reconhecido em todo o mundo”?
Qual seria o tipo de coesão presente no segmento sublinhado?
R: Começo por responder, antes de tudo, assumindo que a construção de coesão referencial ocorre sempre que se designa uma entidade e/ou se constrói uma cadeia de referência. Costuma-se assinalá-la, nomeadamente, pelas construções de definitivização, pelo recurso a signos deíticos / anafóricos / catafóricos e pela utilização de expressões referenciais indefinidas numa cadeia de referência.
Com "essa emoção" (1a) há coesão referencial anafórica apoiada no mecanismo de anáfora nominal (pois 'essa emoção' é um grupo nominal). Não deixa de ser lexical, uma vez que recorre a léxico e não apenas a elementos gramatico-relacionais. Não considero, contudo, que haja repetição / reiteração, pois a passagem / progressão 'a emoção > essa emoção' não é estável na repetição de todo o grupo nominal.
'Desse contorno' (1b) é representativo de um tipo de coesão lexical (pelo recurso a uma associação entre a forma verbal e a respetiva nominalização - que alguns estudiosos designam de anáfora resumativa) e também gramatical (pela anaforização construída com o determinante demonstrativo).
Conforme já o indiquei em apontamentos anteriores, o segundo caso (2a) sustenta-se num mecanismo anafórico baseado numa perífrase, o que implica a dimensão não só lexical mas também de conhecimentos extra (enciclopédicos), validáveis e associáveis à correferência não anafórica. Não se trata de substituir, mas de associar, relacionar - daí a coesão lexical por associação (não anafórica, por haver outros 'poetas dos poetas', conforme os critérios de avaliação considerados). Já com a última questão (2b), apontaria para o facto de haver a combinação de dois processos: por um lado, o tipo de coesão gramatical, com a construção anafórica nominal; por outro lado, o tipo de coesão lexical, de novo apoiado na associação (perífrase) Fernando Pessoa > poeta dos poetas.
Com "essa emoção" (1a) há coesão referencial anafórica apoiada no mecanismo de anáfora nominal (pois 'essa emoção' é um grupo nominal). Não deixa de ser lexical, uma vez que recorre a léxico e não apenas a elementos gramatico-relacionais. Não considero, contudo, que haja repetição / reiteração, pois a passagem / progressão 'a emoção > essa emoção' não é estável na repetição de todo o grupo nominal.
'Desse contorno' (1b) é representativo de um tipo de coesão lexical (pelo recurso a uma associação entre a forma verbal e a respetiva nominalização - que alguns estudiosos designam de anáfora resumativa) e também gramatical (pela anaforização construída com o determinante demonstrativo).
Conforme já o indiquei em apontamentos anteriores, o segundo caso (2a) sustenta-se num mecanismo anafórico baseado numa perífrase, o que implica a dimensão não só lexical mas também de conhecimentos extra (enciclopédicos), validáveis e associáveis à correferência não anafórica. Não se trata de substituir, mas de associar, relacionar - daí a coesão lexical por associação (não anafórica, por haver outros 'poetas dos poetas', conforme os critérios de avaliação considerados). Já com a última questão (2b), apontaria para o facto de haver a combinação de dois processos: por um lado, o tipo de coesão gramatical, com a construção anafórica nominal; por outro lado, o tipo de coesão lexical, de novo apoiado na associação (perífrase) Fernando Pessoa > poeta dos poetas.
Pormenor do 'Retrato de Fernando Pessoa e Alfredo Marceneiro' (2012), de Júlio Pomar
Acrílico, carvão e pastel sobre tela
Exemplos de como a coesão implica uma abordagem gramatical integradora, ao serviço das competências do escrito (seja na sua compreensão seja na sua produção).
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