sexta-feira, 18 de junho de 2021

Gestos de quem se gosta

      Fecha-se um ciclo, um tempo feito de muitos momentos...

     Para alguns talvez mais do que para outros: há quem tenha vivido um ciclo de três anos; quem se tenha ficado por dois ou, ainda, quem não passou além de um só. Independentemente disso, o dia foi de intensa e comum despedida sentida por e para todos.
     Houve rosa sem espinhos; houve postais escritos a mostrar que, no afeto, há mais do que correção; houve lembrança dedicada a quem quis ensinar a todos, sem exceção; houve recordação de palavras, de vivências, de reações de um antes que deu lugar a um depois tão diferente! Houve ainda a foto para memória futura, aquela que já faz sentir saudades de tudo o que se experienciou aula a aula e fora dela (quando se pôde e quando se quis).
    Num ano particularmente difícil, continuei a ter a felicidade de estar acompanhado daqueles que, dia-a-dia, me souberam respeitar; me tiveram em mente, apesar de algumas ausências; me fizeram sentir grato, ganhar forças e ver que, na medida do possível, colaboravam com o lema do "trabalho, trabalho e mais trabalho". Uns pela qualidade demonstrada, outros pelas descobertas conseguidas, uns mais pelos erros cometidos que também ajudavam a ensinar, outros ainda pelos comentários que (no fundo da sala, em surdina, mas com voz bem reconhecida) permitiam construir cumplicidades e afinidades além do estatuto e do papel devidos, sem esquecer os que reservada e timidamente assistiam ao espetáculo de todos... esta foi a soma construída que nos foi aproximando.
     Ouviu-se "Queremos ficar aqui! Não queremos ir embora!" (Como?!); "Vou ter de ir mais vezes à Carruagem 23!" (O que fazem as saudades!); "Que dia tão triste!" (Não, senhor! É bonito!).
    Circularam T-shirts que deixaram de ser apenas brancas - simples, do clube desportivo da terra ou da junta de freguesia -, para ter dedicatórias que, em jeito de finalistas, revelavam sentimentos, desejos que o tempo (re)fez e fará recordar. 
     Citaram-se alguns versos de uma ode camoniana (Ode IX):

«Porque, enfim, tudo passa;
Não sabe o Tempo ter firmeza em nada;
E nossa vida escassa
Foge tão apressada
Que quando se começa é acabada.»

      Quando tudo parecia chegar ao fim, veio o "Sabe, eu queria um abraço!"
      À distância, foram-se abrindo os braços, como se fosse possível sentir toque apenas com o que se vê. Um íman parecia estar em cada um de nós. Por maior que a sala fosse, o campo magnético fez-se de vontades humanas (se Blimunda soubesse, vinha colhê-las para o seu frasco, a fim de que a Passarola voltasse a voar).
    Chegado a casa, pouso os livros, um ou outro caderno (com quadrículas, números, nomes, notas, apreciações, registos), a pasta, um romance... Releio um pequeno texto que me foi entregue a medo, não houvesse alguma falha: "Esperamos ter marcado tanto a sua vida como o professor marcou a nossa". Ficaram felizes quando lhes disse que não havia nenhum erro. Não podia, simplesmente. Era uma pequena grande frase.

       É tão clara a certeza do que é esperado! Obrigado, por terem estado comigo. (E mais não digo, porque sabem bem quem são).

2 comentários:

  1. Bom dia!
    Que dia bom, Vítor, o que descreves, resultado de tantos dias, também bons, dentro e fora da escola.
    É uma maravilha quando há comunicação, crescimento, respeito mútuo, reconhecimento, alegria, amor pela educação...
    Embora não conheça os teus alunos, mando-lhes daqui um abracinho. Levam e deixam excelentes marcas. Que mais se pode desejar, para além de felicidades?
    Um abraço, Vítor, muitos parabéns e feliz fim de semana.

    ResponderEliminar
  2. Muito obrigado, Dolores.
    Em nome deles, agradeço o abracinho. Eles iam gostar, por certo, de o receber e de ter uma professora dedicada e carinhosa como tu. Também eles te deixariam marcas, como muitos dos alunos que te acompanharam e contigo cresceram.
    É com alunos destes que ficamos felizes - concluindo que fizemos alguma coisa de bom nesta vida e acreditando que há futuro.
    Bom fim de semana.
    Beijinho.

    ResponderEliminar