terça-feira, 11 de novembro de 2014

Formar palavras em português... e não só.

     Nem de propósito, a questão surge prematuramente face ao calendário.

    Diz-se que o dia dos prematuros celebra-se a 17 de novembro. Falta menos de uma semana, mas a dúvida instala-se e não é, por certo, por ocorrer antes do tempo.
   Em contexto de sala de aula, a palavra em estudo é 'prematuramente' e quer saber-se qual o processo de formação a ela associado. A orientação vai no sentido de ser uma derivada por sufixação, até que alguém insiste que também vê lá o prefixo 'pre' e, assim, quer ver o cenário da derivação por prefixação e sufixação.
  Não sendo incompreensível a situação e compreendendo o interesse do raciocínio revelado, não pode ser dada razão a quem não a tem e por vários motivos:
. primeiro, a palavra que dá origem a 'prematuramente' é 'prematuro' e não 'maturo', pelo que é o termo segundo a constituir a base derivacional, à qual se acrescenta o sufixo 'mente';
. segundo, a consideração do prefixo faria sentido quando se quisesse abordar a formação de 'prematuro' (a partir de 'maturo', base a que se acrescentaria o prefixo 'pre');
. terceiro, o reconhecimento da origem latina do termo 'prematuro' (praemātūrus, praemātūrum) permite afirmar que, a haver alguma formação prefixada, esta aconteceu no próprio latim, não no português.
. quarto, qualquer dicionário com informação etimológica e descrição morfológica dará conta da construção 'prematuro + mente'.
    Se 'prematuro' pode ser lido como o que não está maduro, é de registar ainda a própria presença do som [t] na palavra em estudo, uma pequena pista da origem de tudo (mais um dado comprovativo da origem latina do português), na qual já aparecia incorporado o prefixo (que, a sê-lo, só pode ser entendido na formação da palavra no próprio latim).

      Assim, fiquemo-nos pela derivação por sufixação recorrentemente presente no português para a  formação de advérbios a partir de adjetivos (deadjetivais).

2 comentários:

  1. Há dois anos, uma turma do 7º ano pôs-me a pensar na palavra "abraço" - eu estava a pensar na derivação não afixal e eles queriam um prefixo "anexado" ao braço... tive de recorrer ao dicionário etimológico, porque o raciocínio deles não estava errado...

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    1. Precisamente, Ana Rosa.
      Há raciocínios que, por mais interessantes que sejam, não podem ser validados.
      Isto de "abraçar" a etimologia sempre ajuda nalguma coisa, particularmente quando o 'abraço' é mesmo o resultado final do ato de abraçar.
      Assim sendo, nada como terminar com um 'abraço' e o agradecimento pelo comentário.

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