A questão do contexto é fundamental; a do texto também.
Na base de tudo, um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Q: Vítor, aqui vai mais uma dúvida: no poema de Sophia, "A forma justa", o 'Por isso' que abre a última estrofe que valor lógico apresenta?
R: Olá. A classificação do conector 'por isso' é muito variável e discutida na comunidade dos estudiosos da língua. A habitual inserção entre os conectores 'conclusivos', segundo a gramática tradicional e no contexto da análise frásica e interfrásica, não exclui dois cenários: um, o de os conectores linguísticos admitirem a expressão de vários valores juntivos (o caso da conjunção 'e' é clássico, quando admite a expressão de valores adversativos, consecutivos, temporais, além da sua natureza aditiva); outro, o de os conectores articularem sequências com distribuição ou ordenação informacional variável (daí a articulação geral da causa-consequência dar lugar a conectores distintos, conforme a ordem seja Causa > Conector > Consequência ou seja inversa) e com extensão muito além da frase complexa.
Assim, numa perspetiva de construção textual, como a implicada no poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, há a considerar o facto de toda uma primeira estrofe funcionar como um antece- dente textual (mar- cado por uma lógica dominantemente condicional) para um consequente introduzido pelo conector 'por isso'. Na sequência desta progressão textual, há um raciocínio argumentativo que se dá a ler ao longo de treze versos e se conclui com um dístico (estrofe final) a introduzir o efeito ou a consequência lógica de um saber ("Sei") feito de mundos alternativos (daí o condicional contrafactual, lido em "seria possível", "poderiam ser", "proporia" ou mesmo no imperfeito do conjuntivo "atraiçoasse", "fosse").
"Por isso", neste caso, é um conector de natureza pragmático-discursiva, relacionado com raciocínios de progressão do tipo causalidade ou condicionalidade (pressuposta ou antecedente) > consequência. Introduz, portanto, uma consequência (textual). É um conector consecutivo.
Uma forma particular de consecutividade pode ser encontrada na conclusão conforme às regras da lógica, quando se utilizam os conectores 'por isso', 'por / em consequência' e 'consequentemente'. Com eles, o enunciador indica ao enunciatário que este deve considerar uma dada sequência como lógica e completa segundo um ponto de vista argumentativo. Nesta base também se entende a classificação de construções 'consecutivas conclusivas', na linha da proposta feita por Joaquim Fonseca (seguindo A. Zanone) aquando do estudo "Pragmática e Sintaxe-Semântica das Consecutivas" (1994).
Assim, numa perspetiva de construção textual, como a implicada no poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, há a considerar o facto de toda uma primeira estrofe funcionar como um antece- dente textual (mar- cado por uma lógica dominantemente condicional) para um consequente introduzido pelo conector 'por isso'. Na sequência desta progressão textual, há um raciocínio argumentativo que se dá a ler ao longo de treze versos e se conclui com um dístico (estrofe final) a introduzir o efeito ou a consequência lógica de um saber ("Sei") feito de mundos alternativos (daí o condicional contrafactual, lido em "seria possível", "poderiam ser", "proporia" ou mesmo no imperfeito do conjuntivo "atraiçoasse", "fosse").
"Por isso", neste caso, é um conector de natureza pragmático-discursiva, relacionado com raciocínios de progressão do tipo causalidade ou condicionalidade (pressuposta ou antecedente) > consequência. Introduz, portanto, uma consequência (textual). É um conector consecutivo.
Uma forma particular de consecutividade pode ser encontrada na conclusão conforme às regras da lógica, quando se utilizam os conectores 'por isso', 'por / em consequência' e 'consequentemente'. Com eles, o enunciador indica ao enunciatário que este deve considerar uma dada sequência como lógica e completa segundo um ponto de vista argumentativo. Nesta base também se entende a classificação de construções 'consecutivas conclusivas', na linha da proposta feita por Joaquim Fonseca (seguindo A. Zanone) aquando do estudo "Pragmática e Sintaxe-Semântica das Consecutivas" (1994).
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