Três dias depois, o pesadelo começa a receber a resposta que devia ter sempre existido.
O atentado - terrorista no ato, se não o for na dimensão ideológico-político-religiosa (a ver vamos quem o reclamará) - ao jornal Charlie Hebdo é traumático pelas vítimas provocadas; lamentável e perturbador pelos princípios que o possam ter motivado; ofensivo e crítico pelo desrespeito dos ideais atacados, tão marcantes para a história e cultura francesas como para o ocidente europeu (e não só). Os proclamados defensores dos valores de cidadania, de inclusão e integração, aceitação e multiculturalidade, liberdade, igualdade e fraternidade sentiram-se violentados, vitimizados.
Estátua do ardina, na cidade do Porto,
junto à Praça da Liberdade.
O "Je suis Charlie" surge em todo o local e com qualquer pessoa de bem, numa identidade emotiva e virtuosa não só com a liberdade de expressão mas também com os valores mais universais do ser humano. Falta saber quanto tempo durará esta marca, para não falar de todos os dirigentes políticos que vão embandeirar-se com tal identificação, mesmo sendo capazes de originar outras formas de terrorismo. Valha o facto de se deixarem também consciencializar pelo que possa representar este triste e trágico momento. Era bom que a causa fosse mais persistente, consistente, abrangente.
Para amanhã anuncia-se um grande movimento solidário em Paris. Lá estarão os governantes, os partidários dos valores que nos unem, encabeçando uma iniciativa que devia alargar-se ao combate de toda e qualquer forma de terrorismo, nomeadamente a que mais se faz sentir quase todos os dias, afetando a dignidade humana (por decisões excessivas, mais do que contestadas, nos planos político, económico e social).
Não é livre quem é fanático; não é igual aquele que, na diferença e diversidade, não busca o que nos faça ou possa unir; não é fraterno quem responde a lápis, canetas, palavras e ilustrações humorísticas com armas letais, atos violentos e mortes injustas. Onde estais vós, liberdade, igualdade e fraternidade?
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