Assim acontece sempre que o feriado coincide com um fim de semana.
Por mais importante que o seja (e é-o!), este é o Dia da Liberdade.
Celebrá-lo a um sábado sabe a pouco: já nos sentimos libertos (pelo menos, todos aqueles que, por norma, gozam o fim de semana ao sábado e ao domingo). Ainda bem que assim é: sentimento tão ajustado à libertação de um fim de uma semana de trabalho como à de um regime democrático conquistado às mãos de um despotismo que se quer passado (infelizmente, e por vezes, com sinais de presente).
Celebrá-lo a um sábado sabe a pouco: já nos sentimos libertos (pelo menos, todos aqueles que, por norma, gozam o fim de semana ao sábado e ao domingo). Ainda bem que assim é: sentimento tão ajustado à libertação de um fim de uma semana de trabalho como à de um regime democrático conquistado às mãos de um despotismo que se quer passado (infelizmente, e por vezes, com sinais de presente).
Num dia em que o país se cobriu de cravos, a flor que adornou a arma da revolução, talvez não fosse de esperar que, passado quarenta e um anos, o descrédito e a desilusão se instalassem, perante uma realidade política que não deixa reabrir a caixa de Pandora (esta só existiu para o mal, sem que lhe seja permitida a revisão narrativa, pela tónica da esperança). E, assim, o desânimo vinga, numa data que tudo teve de contrário. Hoje, o "Nevoeiro" pessoano revive-se.
25 de abril começa a dizer pouco, não pelo que se conquistou (que deve manter-se válido e exemplo do caminho a seguir), mas pelo que se fez da democracia.
Por isso, fazem sentido os versos de Maria Teresa Horta, aqui transcritos a partir do que é dado a ler na sua página oficial do Facebook:
VINTE E CINCO DE ABRIL
Este é um poema
com saudade da festa
Dias de vermelho
de damasco e de riso
Das horas de alegria
e de bandeiras, de cravos
rubros postos no vestido
Este é um poema
feito de memória
Da pressa incontida
no passo corrido
De fala crescida
de prisões abertas, de escrita
liberta descobrindo o sentido
Este é um poema recordando
a mudança, da esperança
e do sonho acontecido
Com palavras
do corpo e de lembrança
Exigindo o futuro
a promessa e o grito
Este é um poema
cantando
a liberdade
De lágrimas costuradas
suturando o sorriso
Ousando dizer da ambiguidade
da estranheza do novo
misturado ao antigo
Este é um poema
torneando o avesso
Da luz da madrugada
de uma noz de vidro
Do voo das gaivotas
junto à pele das águas
fazendo do Tejo o seu precipício
Este é um poema
de visitar a História
Da revolução
o ganho
e também o perdido
Da viagem e do mar
da língua portuguesa
onde na paixão me encontro comigo
Maria Teresa Horta, inédito
De facto, este é o poema que dá a ler o dia que se quer (re)vivido; esta é a poesia que, de mão dada com a História, faz do passado mensagem de futuro, para nos libertar de um presente que mais parece o "avesso" a tornear.
Lá virá o dia (já esteve mais longe)! Assim haja força, vontade e coragem para a união dos que, em tempo de escolha, saibam novo rumo encontrar (não apenas nos que, na paixão, se encontrem consigo próprios, mas que também ao outro se consigam dar).
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