Não cumpre muito a tradição esta figura de S. João, com cordeiro e livro na mão.
Foto da escultura de São João,
exposta no Museu Nacional Machado de Castro,
em Coimbra (VO)
Para lembrar o dia, é reconhecido o facto de este se relacionar com a celebração católica do nascimento do profeta João Baptista (para não mencionar as festas pagãs do solstício de junho, realizadas na noite mais longa do ano). O cruzamento religioso e pagão faz-se na figura bíblica que, no rio Jordão, batizou gentios e judeus e também Cristo, apresentado como o Messias e o "cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo".
A representação comum de João com um cajado e vestes de pastor cumpre o requisito biográfico do homem que, após a morte do pai, teve a mãe (Isabel, prima de Maria) a seu cargo e viveu, por opção, como asceta. Invulgar é a que se dá ver numa escultura que encontrei há dias, aquando da visita ao Museu Nacional Machado de Castro (Coimbra): São João com um carneiro e um livro na mão.
Como profeta que foi e filho do sacerdote Zacarias, terá João Baptista contactado mais diretamente com o saber do seu tempo (metaforizado no livro) - ora ministrado pelo pai e pela mãe ora transmitido pelos mestres da educação dos nazireus, ou seja, dos seguidores da Torá hebraica - livro, instrução, lei seguida pelos fiéis à tradição judaica, também designado como Lei de Moisés.
Fica, assim e neste dia sanjoanino, uma aproximação à leitura da escultura. Quanto à festa, talvez ela já reflita as feições do que Fernão Lopes, no século XIV, deixou escrito em crónica como uma grande festa vivida pelas gentes do Porto (para não dizer que até a moirama, segundo uma cantiga da época, se rendeu à festa do santo católico, numa expressão clara da união sem qualquer tipo de preconceito).
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