sábado, 23 de janeiro de 2010

Para as diferenças de 'haver' e 'existir'

     Nem sempre a sinonímia obriga à mesma configuração sintáctica. Mesmo uma interface sintaxe-semântica admite diferenças no planos de análise.

     Q: Por que razão em "Há cadeiras" o nome tem a função sintáctica de C.D. e em "Existem cadeiras", de sujeito? Ou está errada esta classificação? Se os verbos são sinónimos ("haver" significa, aqui, não "ter", mas "existir"), não deveriam ter um comportamento sintáctico equivalente?

    R: Não necessariamente. Por exemplo, admitindo que 'Eu gosto de café' seja sinónimo de 'Eu aprecio café' e que 'de café' / 'café' correspondam ao mesmo papel temático ou semântico (Objecto ou Tema), a verdade é que o predicado apresenta funções sintácticas distintas: 'de café' é o complemento oblíquo do verbo 'gostar'; 'café' é o complemento directo de 'apreciar'.
     No caso dos exemplos propostos, particularmente em “Existem cadeiras”, o sujeito “cadeiras” encontra-se em posição inversa à ordem normal e marcado pelo plural. Esta última característica é uma pista associada a uma das propriedades típicas de identificação do sujeito: a de obrigar o verbo do predicado a concordar quanto ao número. A par desta propriedade, há a pronominalização possível do sujeito com a configuração “Elas existem” (pronome pessoal na forma de sujeito).
     Já com o verbo ‘haver’, apresenta-se um comportamento sintáctico distinto. 'Haver', na qualidade de verbo principal, obedece a uma estrutura argumental cujo sujeito é de natureza nula (expletiva): ‘[-] Há cadeiras.’ A realização possível  de uma frase como 'Ele há cadeiras para todos os gostos' orienta a consideração de um sujeito ('Ele') detectável em outras línguas, como o francês ('Il') ou o inglês ('There'). Mesmo com a possibilidade de anular a inversão ('Cadeiras há'), nomeadamente com expansões que permitam o encadeamento com uma subordinada relativa, a natureza impessoal do verbo 'haver' (enquanto principal) não admite também conjugação-concordância.
    Assim, “cadeiras” é um argumento interno ao predicado ‘haver+N’ e não argumento exterior (como é o caso do sujeito sintáctico).

    Questão para dizer, em reformulação de provérbio, 'Aproximações, aproximações, distâncias à parte'.

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