Mais um apontamento e uma questão vindos do lado de lá do Atlântico.
De apontamento em apontamento, já cá estão dez provas de que há quem queira falar sobre a nossa língua, mesmo nas coisas mais problemáticas que esta possa apresentar.
Q: Classifique os quês: "Eu não sei que ela faz aqui. Eu não sei que pessoa é essa. Eu sei que ela faz aqui. Eu sei que pessoa é essa. Eu sei que ela não vem."
R: Começo por agradecer o desafio (que não é pequeno).
Constato a variedade da língua em realizações sintáticas que me atrevo a aportuguesar segundo a variedade europeia.
Obtenho os enunciados seguintes:
i) Eu não sei o que ela faz aqui.
ii) Eu não sei que pessoa é essa. (> Eu não sei que tipo de pessoa é essa OU Eu não sei quem é essa pessoa.)
iii) Eu sei o que ela faz aqui.
iv) Eu sei que pessoa é essa. (> Eu sei que tipo de pessoa é essa OU Eu sei quem é essa pessoa)
v) Eu sei que ela não vem.
E, agora, tanto para fazer.
Primeiro de tudo, interessará constatar a integração de todos os 'que' no que se designa tradicionalmente por subordinadas substantivas (sejam subordinadas completivas sejam subordinadas relativas sem antecedente); de seguida, classifico cada uma das ocorrências do termo em estudo, atentando no seguinte:
. em i), tal como em iii) na forma ou polaridade negativa, 'que' surge antecedido de um 'o', numa estrutura subordinada que algumas gramáticas apelidam de 'relativas semi-livres'; trata-se, portanto, de um 'que' pronome relativo;
. em ii), duas abordagens são possíveis para o que se toma como subordinadas substantivas associadas a interrogativas indiretas (isto é, não as interrogativas indiretas totais - introduzidas pela conjunção 'se' -, mas as parciais - as que requerem a focalização de um dado informativo pressuposto na questão direta parcial): face ao determinante interrogativo pressuposto em 'Que (tipo de) pessoa é essa?', a subordinada completiva apresentada é introduzida por um termo pertencente a essa mesma classe de palavras; no caso da transformação proposta em 'Eu não sei quem é essa pessoa' e da questão pressuposta ('Quem é essa pessoa?'), estaremos perante uma subordinada introduzida pelo pronome interrogativo 'quem';
. em iii), encontra-se o que já foi exposto em i), só que em polaridade negativa;
. em iv), encontra-se o mesmo 'que' assinalado em iii), numa frase matriz de polaridade positiva (contrariamente à negativa proposta em ii);
. em v), 'que' é utilizado como conjunção integrante ou completiva (introduzindo a subordinada 'ela não vem', de natureza declarativa ou enunciativa quanto ao tipo de frase).
Em suma, para os cinco enunciados, há três utilizações distintas de 'que': pronome relativo (em i e iii); determinante interrogativo (em ii e iv); conjunção completiva ou integrante (em v).
Se, de comum, os 'que' têm a natureza articulatória, conectiva ao nível da composição frásica, em muito se distinguem em termos de classificação quanto à classe de palavras. Exemplo de mais um termo camaleónico na gramática da língua portuguesa.
Primeiro de tudo, interessará constatar a integração de todos os 'que' no que se designa tradicionalmente por subordinadas substantivas (sejam subordinadas completivas sejam subordinadas relativas sem antecedente); de seguida, classifico cada uma das ocorrências do termo em estudo, atentando no seguinte:
. em i), tal como em iii) na forma ou polaridade negativa, 'que' surge antecedido de um 'o', numa estrutura subordinada que algumas gramáticas apelidam de 'relativas semi-livres'; trata-se, portanto, de um 'que' pronome relativo;
. em ii), duas abordagens são possíveis para o que se toma como subordinadas substantivas associadas a interrogativas indiretas (isto é, não as interrogativas indiretas totais - introduzidas pela conjunção 'se' -, mas as parciais - as que requerem a focalização de um dado informativo pressuposto na questão direta parcial): face ao determinante interrogativo pressuposto em 'Que (tipo de) pessoa é essa?', a subordinada completiva apresentada é introduzida por um termo pertencente a essa mesma classe de palavras; no caso da transformação proposta em 'Eu não sei quem é essa pessoa' e da questão pressuposta ('Quem é essa pessoa?'), estaremos perante uma subordinada introduzida pelo pronome interrogativo 'quem';
. em iii), encontra-se o que já foi exposto em i), só que em polaridade negativa;
. em iv), encontra-se o mesmo 'que' assinalado em iii), numa frase matriz de polaridade positiva (contrariamente à negativa proposta em ii);
. em v), 'que' é utilizado como conjunção integrante ou completiva (introduzindo a subordinada 'ela não vem', de natureza declarativa ou enunciativa quanto ao tipo de frase).
Em suma, para os cinco enunciados, há três utilizações distintas de 'que': pronome relativo (em i e iii); determinante interrogativo (em ii e iv); conjunção completiva ou integrante (em v).
Se, de comum, os 'que' têm a natureza articulatória, conectiva ao nível da composição frásica, em muito se distinguem em termos de classificação quanto à classe de palavras. Exemplo de mais um termo camaleónico na gramática da língua portuguesa.
1) Eu não sei que ela faz aqui. (pronome interrogativo: Que ela faz aqui?) Todas as demais são interrogativas indiretas; a última, não; concordo que seja conjunção integrante, pois não é possível fazer uma pergunta a partir do 'que'. 2) ... que pessoa é essa? 3) ... que ela faz aqui? 4) ... que pessoa é essa? 5) Eu sei ISSO."
ResponderEliminar1 e 3 pronome relativo??? Acho, respeitosamente, que é forçar a barra. Abs!
Começo por registar que a realização proposta em 1) é no mínimo estranha (o português da variedade europeia, terá sempre construção 'Eu [não] sei O que ela faz aqui').
EliminarSeja na frase com polaridade negativa seja na negativa, o segmento 'o que ela faz aqui' corresponde sintaticamente a um complemento direto, numa estrutura correspondente a uma subordinada designada como relativa livre (relativa sem antecedente). É nessa base que o entendo como pronome relativo (sem antecedente, ou assente num pré-construído linguístico subjacente ('ela faz algo aqui'). Para este entendimento apoio-me tanto nos contributos gramaticais da Profª. Ana Maria Brito (autora do capítulo 16 de 'Gramática da Língua Portuguesa', da Editorial Caminho e com a coordenação científica de Mira Mateus) como nos de Ignacio Bosque e 'el relativo que precedido del artículo determinado', no âmbito dos 'relativos complejos' (caps. 22.3.2 e 44.1.3 de 'Nueva gramática de la lengua española', da Real Academia Española).
Cumprimentos.