Em tempos de alteração na nomenclatura gramatical, vêm os casos que não surgem nos exemplos.
Q: Agora que os advérbios aparecem divididos entre os de frase, os de predicado e os conectivos, onde fica o 'eis'?
R: A natureza designativa, apresentativa ou mostrativa deste advérbio faz com que ele seja encarado no âmbito dos elementos linguísticos que "mostram" verbalmente as condições ou informações contextuais em que um discurso é produzido. Assume-se, portanto, como elemento detentor de uma função deítica, obtida pela relação com as circunstâncias de enunciação.
Neste sentido, o advérbio apresenta propriedades orientadas para a enunciação que releva, destaca um elemento enunciado ("Eis o homem!"), bem como o momento (temporal) de revelação, designação e construção da própria referência enunciativa.
Contrariamente aos advérbios de localização temporal que modificam o predicado (e, portanto, admitem as estruturas da negação e da interrogação), o caso de 'eis' compagina-se com as propriedades dos advérbios de frase, sublinhando a intencionalidade, a dimensão modalizada de um enunciado caracterizado por marcas orientadas para o falante, para a avaliação que este processa em termos de saliência, de realce, de topicalização (como se evidencia com a construção frásica equiparada a uma estrutura clivada: "Eis a questão que surge!" > É a questão que surge).
Vejo, assim, razões para situar 'eis' entre os advérbios de frase, na medida em que se toma como fruto da intervenção do falante / enunciador sobre o conteúdo proposicional produzido, pelo modo como diz (dicere) e pelo que quer dizer (uelle dicere).
A natureza excecional deste advérbio surge tratada em O Advérbio em Português Europeu, de João Costa (2008: 16). A sua inclusão no campo dos advérbios de designação (cf. Gramática da Língua Portuguesa, de Mário Vilela, 1999: 242), enquanto subcategoria acrescida às classificações tidas como tradicionais, era já um dado a considerar nessa excecionalidade.
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