sexta-feira, 8 de março de 2024

De / Sobre / Para Mulher(es)

     Saudados todos os leitores, elas hoje saem destacadas - pelo Dia Internacional da Mulher.

   Ainda que assinalado desde o início do século XX (com variações na data da celebração), em dezembro de 1977, este veio a ser o dia oficialmente reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, através da Resolução 32/142, para sublinhar os direitos conquistados pelas mulheres até então: o direito ao voto, a salário igual, a maior representação em cargos de liderança, a proteção em situações de violência física e/ou psicológica, ao acesso à educação. Fossem direitos já adquiridos, não haveria a necessidade de tomar o dia pela diferença, nomeadamente nalguns pontos do globo, onde muitos deles estão ainda por cumprir.
     Hoje, lembrei-me de uma mulher que recentemente me ofereceu uma edição / publicação poética (o esforço que fiz para não escrever o masculino 'livro'!), da autoria de uma professora minha de Literatura Inglesa na Faculdade de Letras do Porto:

               O SOPRO

A mulher sentada à minha frente

brinca com a carteira –
distraída

Gira e revira a asa
da carteira,
enrola-a entre os dedos,
volta após volta

Ana Luísa Amaral (2021: 80-81),
in Mundo, Porto, Assírio e Alvim

Como um pássaro breve e dançarino,
a asa da carteira ganha vida
nos dedos da mulher

A carteira é azul e o fecho é amarelo,
a mulher é velha,
a saia desbotada, uma blusa cansada
e também velha, usa chinelos

Mas brinca com a asa
da carteira
num ar feliz de criança ou pardal,
sem se preocupar com as pessoas sérias
de mãos serenamente,
seriamente pousadas sobre o colo,
lendo quietamente o seu jornal

A mulher sentada
à minha frente
brinca com a carteira,
distraída


Distraída, a mulher? Ou a carteira?

fazendo piruetas,
volteios elegantes, curtos passos de dança,
ao dar-lhe o sol de lado, na cabeça,
a mulher fica quase bonita
no seu ar distraído de criança
ao dar vida à carteira,
que dança

distraída
no seu colo
      Um poema para todas as mulheres, de uma mulher, acerca de mulher(es), com palavras que são colo, calor, luz e sopro de vida, independentemente da(s) idade(s) e do(s) género(s).
     Quem puder leia outra mulher que escreveu uma narrativa muito feminina, que cruzei com "O Sopro" numa viagem e numa progressão temporal que me fizeram (re)ver "Georgina" em verso.

      Bem hajam, Mulheres. Felicitações por este dia, a espelhar no dia-a-dia do resto do ano.

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