Depois da correção da segunda fase, e comparando com a primeira, não prevejo alterações substanciais nos resultados de exame de 12º ano.
Não posso dizer que tenha atribuído resultados substancialmente diferentes. De novo, a média ficou-se pela negativa nas cerca de quarenta provas que me foram destinadas.
A melhor classificação esteve acima dos resultados atingidos na primeira fase, mas o contrário também foi verdade: resultado inferior para a pior nota.
No enunciado constava, no grupo I-A, um excerto do canto VII de Os Lusíadas (numa das invocações que o poeta formula ao longo da epopeia). Trata-se de um conteúdo recorrentemente selecionado nas provas de exame dos últimos anos letivos. Não obstante tal frequência, há muita relatividade a considerar na familiarização com a obra e o escritor implicados: primeiro, porque do 9º ano (quando os alunos abordaram, com alguma sistematicidade, a epopeia camoniana) até ao 12º há um hiato temporal coincidente com a ausência programática do épico quinhentista, apenas retomado no final do secundário e numa perspetiva (a do plano do poeta) distinta da anterior e dominantemente focalizada (a dos plano da viagem, da mitologia e da História de Portugal); segundo, por a cosmovisão e as linhas contextuais de produção da obra serem fraca ou dificilmente reconhecidas pela contemporaneidade de vivências dos alunos; terceiro, por o léxico do excerto / da obra não ser convenientemente descodificado, para mal das linhas interpretativas solicitadas para o discurso lido (basta pensar na dificuldade que grande parte das respostas revelava no entendimento da "fúria" camoniana, tão distante da força e da intensidade da criação poética).
A representatividade distintiva das orientações programáticas, em termos das obras de leitura integral, é assegurada no grupo I-B, convocando-se uma produção escrita compositiva restrita / limitada para a abordagem de uma das personagens de Felizmente Há Luar! - dado que, por ora, apontaria como melhor conseguido do que na prova da primeira fase (com cem pontos do exame centrados na heteronímia pessoana).
Os restantes grupos - II (leitura e conhecimento explícito) e III (composição escrita extensa) - estão na linha do expectável, do habitualmente avaliado em exames.
Os restantes grupos - II (leitura e conhecimento explícito) e III (composição escrita extensa) - estão na linha do expectável, do habitualmente avaliado em exames.
O balanço geral negativo justifica-se pelo exposto a propósito do grupo I-A, a par do que possa ser apontado como a ditadura do transcrito, do superficial e do literal, a ponto de quem resolve a prova não evidenciar inferências a partir do que é lido. Estando aqui parte do problema (a título concetual), não menos relevante é a deficiente produção escrita, com penalização sistemática nos aspetos formais (estruturação discursiva, correção gramatical). A maior parte das cotações atribuídas é conseguida por uma componente de conteúdo que quase nunca atinge a totalidade prevista e que é, por sua vez, acompanhada do (quase) vazio da forma de expressão.
Persistem, nesta última e de modo acentuado, fragilidades ao nível:
a) da excessiva extensão / composição da frase (imensas linhas para um só período, ampliado ao ponto de se conectar tópicos sucessivos com um recorrente 'e' e/ou a familiar vírgula);
b) da indiferenciação de estruturas de coordenação e de subordinação e, neste último caso, do irreconhecimento do que seja subordinante face ao que é subordinado (muitas vezes com a ausência do primeiro);
c) da ausência de pontuação forte (para segmentar sequências completas de sentido);
d) da inequívoca má utilização de vírgula (presente nos casos em que nunca deverá acontecer);
e) da utilização repetitiva de palavras, numa evidente falta de léxico sinonímico ou de falha no recurso de processos anafóricos (sejam gramaticais sejam lexicais);
f) da falta de concordância (no número e no género), tanto em casos comuns como em cenários de construção problemática;
g) da inconsciência ortográfica associada à utilização distintiva da acentuação ou às questões de homofonia;
h) da indeterminação na utilização de maiúsculas / minúsculas.
Em síntese, o ato de escrever aparece numa aproximação / identificação completa com o de falar, numa oralidade mal produzida / constuída, na base do discurso familiarmente comum e irrefletido; na fala produzida aquando da construção fluida e fluente do pensamento, transposta para o papel sem receber o tratamento refletido e reflexivo ou a formalização requerida a um modo mediado, sujeito a distanciamento e a recontextualização.
Fica, assim, o registo do balanço de uma experiência (a da correção de exames) por certo à espera de dias melhores e melhores resultados.
Caro Vítor,
ResponderEliminarfelicito-te pela análise aguda, que todas as alíneas não nos são meras.
Ah, e o meu aluno venceu o recurso, pelo que como disseste (citando de cor) «devemos saber compensar as distorções potenciais». E assim evitar proativamente a reapreciação.
Obrigado, Vitorino.
EliminarAinda bem que há quem saiba ler e fazer recursos, mostrando que a vida dos alunos (e do Homem, em geral) é feita por muito mais do que secos números e décimas inconsistentemente improdutivas.
Abraço.