Em dia de estreia do filme em Portugal, houve bacalhau (não com todos) para todos os que o quiseram trazer.
A imagem de um Portugal composto por Fátima, futebol e fado impõe-se mais pelos dois últimos termos do que pelo primeiro. Não se pode dizer que seja a dramática visão de um país salazarista e salazarento, mas possivelmente a que foi motivada e construída a partir da realidade da emigração desses tempos (que parecem não estar tão distantes quanto isso). Ainda assim, entre a louça de Viana e o retrato de Amália, lá figura no quarto do casal Maria e José Ribeiro a foto dos três pastorinhos, "comme il faut".
Eh voilá! Visto por mais de um milhão e meio de pessoas só em França, "A Gaiola Dourada" (La Cage Dorée, no original) é uma comédia realizada por Rúben Alves, filho de emigrantes portugueses, que dedica a película aos próprios pais. Nela se retrata um casal português de trabalhadores empenhados, já há mais de trinta anos em Paris e com um sentido de reconhecimento e de entrega àqueles com quem vive no dia-a-dia; àqueles que estão na iminência de deixar, para poder assumir a inesperada herança de uma casa na zona do Douro vinhateiro (afinal, a ânsia do emigrante que vê o regresso como objetivo final, na expressão que este adquire da casa e da terra próprias).
Making of do filme "La Cage Dorée" (2013), de Rúben Alves.
Desta forma surge o riso, em vários momentos da película: no confronto de registos e de idiomas próprios de um bilinguismo criticamente assumido; na interação de duas famílias bem distintas (a dos trabalhadores portugueses e a da burguesia francesa, principalmente identificada com a dos Caillaux); no jogo de costumes e de interesses que faz, por vezes, perder o que há de mais genuíno para se entrar no domínio do postiço e da encenação; nos estereótipos culturais, desmontados numa clara sátira ao que ambos os lados têm de caricato e exageradamente real (seja no português, que pretende demonstrar o requinte que se acha capaz de imitar, seja no francês, que julga tudo saber sobre Portugal, como se de Espanha se tratasse).
Com a representação assumida por atores portugueses e franceses, Rita Blanco, Joaquim de Almeida e Maria Vieira têm bons parceiros em Robert Giraud, Chantal Lauby, Barbara Cabrita, Lannick Gautry - o retrato do convívio de comunidades que procuram ultrapassar barreiras sócio-culturais e linguísticas, buscando as raízes e o sentido daquilo "que é bom" (e que, por certo, não tem só a ver com o Douro, com o vinho e com bacalhau) no ser humano. Saídos da "Gaiola Dourada" da civilização, um pouco queirosianamente (à laia de A Cidade e as Serras) são a serra, o Douro e o verde vinhateiro que firmam o tom de alegria final. C'est tout!
Com a representação assumida por atores portugueses e franceses, Rita Blanco, Joaquim de Almeida e Maria Vieira têm bons parceiros em Robert Giraud, Chantal Lauby, Barbara Cabrita, Lannick Gautry - o retrato do convívio de comunidades que procuram ultrapassar barreiras sócio-culturais e linguísticas, buscando as raízes e o sentido daquilo "que é bom" (e que, por certo, não tem só a ver com o Douro, com o vinho e com bacalhau) no ser humano. Saídos da "Gaiola Dourada" da civilização, um pouco queirosianamente (à laia de A Cidade e as Serras) são a serra, o Douro e o verde vinhateiro que firmam o tom de alegria final. C'est tout!
Oui, c'est tout!
ResponderEliminarJe l'ai bien aimé, ce filme-là...
Et blá blá en français et blá blá em português...
E poderia terminar também como o jeitoso do Carlos, com um calãozinho à maneira, bem português!
Car..., o raio do filme é bem divertido!
beijinho e continuação de boas férias!
IA, também Zazá (mas nada tenho a ver com as Produções Zazi que, com a Pathé, nos presenteou com esta La Cage Dorée)
Uhhhh lala! Ça me semble bien plus chique en français (como diria o Dâmaso Salcede, "Chique a valer!").
EliminarPois... pois... já vi que o jeitoso do Carlos é que te chamou a atenção! Eu fiquei-me pelo Douro vinhateiro, mesmo, embora a Paulinha seja uma malandreca muito interessante.
(Podes não ter nada a ver com Zazi, mas a esse propósito lembrei-me de ti - até rimou!).
Beijinho e bom repouso.