Concluída a leitura do novo livro de Dan Brown (Inferno), destaco quatro pensamentos.
Para não me centrar naqueles que produzi de cada vez que (me) revia (n)os percursos de Robert Langdon e Sienna Brooks por Florença ou Veneza, recupero os que a obra dá a ler, a propósito da intriga criada e da aventura tão maniqueísta quanto mirabolante (e doentia) que o leitor recebe.
Começando pelo fim:
Epílogo:
Em tempos de crise, não há maior inferno que o da inação.
(Bem contemporâneo, oportuno e de uma atualidade assustadora)
(Bem contemporâneo, oportuno e de uma atualidade assustadora)
Cap. 79:
A braços com o desespero, os seres humanos tornam-se animais.
(Tantos políticos precisavam de saber isto, quando falam de austeridade!)
(Tantos políticos precisavam de saber isto, quando falam de austeridade!)
Cap. 79:
É fisicamente impossível para a mente humana não pensar em nada. A alma anseia por emoções e continuará a procurar combustível para alimentar essas emoções, sejam boas ou más.
(Tantos a escolher o combustível errado...)
Cap. 50:
É o conflito entre Apolo e Dioniso um dilema famoso na mitologia. É a velha batalha entre a mente e o coração, que raramente querem a mesma coisa.
(E no meio deles vive o Homem, sobrevivendo qual pequeno deus, aos tropeções, na descoberta do caminho que o possa engrandecer)
Se a narrativa começa num registo autodiegético singular para a escrita de Dan Brown, a mente ímpar do protagonista que morre na abertura do romance é o espaço que o leitor terá / deverá descobrir, nos referentes que dá e no alinhamento lógico que os cento e seis capítulos reconstituem, num engendramento manipulador.
Nas doenças que atravessa(ra)m o tempo e o(s) espaço(s); na ilusão e no delírio criados para, estrategicamente, se mascarar o jogo de perseguidores e perseguidos, a ponto de se apagar o que não se quer deixar ver; nos códigos e símbolos que a todo o momento se reveem e se ajustam à questão crítica apresentada a qualquer ser humano atento e reflexivo, em busca de soluções e dando a cara pela resolução dos problemas que o assaltam, Inferno é uma apresentação dantesca (literalmente associada a Dante e à sua Comédia) não só dos poderes a que o Homem está sujeito como também da manipulação que sofre quando menos espera e/ou quando o seu espírito (ou o de quem o governa) se arreda dos desafios colocados em evidência.
De resto, entre perseguições, mistérios, enigmas e falsas pistas, há sempre uma espécie de Bond e de 007 erudito a operar, na companhia de uma bela jovem (mesmo que a beleza feminina aqui se revele bem mais espiritual do que física), com uma pitada de cultura a temperar as fugas milagrosas que sempre acontecem aos heróis.
Do princípio ao fim, Florença (qual personagem vicentina, na alegoria próxima ao mal revisitado na doença) e Dante (o autor dos versos que dão a chave, a aproximação previsível ao final feliz - o do desejado Paraíso, depois do Inferno e do Purgatório - e cuja máscara mortuária é reposta no Palazzo Vecchio como símbolo do retorno à normalidade).
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