No Dia Mundial do Livro, foi apresentada ao público a 1ª edição do Prémio Literário Manuel Laranjeira.
Depois de um interregno de cerca de cinco anos, regressa a Espinho um evento para marcar a atividade cultural da cidade, na projeção de uma das suas figuras maiores e na dinamização da arte de escrita literária.
Na Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva e em parceria com o Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira, publicitou-se aquele que vai ser um prémio com periodicidade bienal, visando o incentivo, a promoção e a divulgação da criação literária para autores com idade igual ou superior a 18 anos. São admitidos apenas textos inéditos, escritos em português e de autoria única, na modalidade dos géneros de diário, da carta ou do texto ensaístico, versando um tema da atualidade. A entrega poderá ser feita até ao dia 22 de fevereiro de 2017, na já mencionada Biblioteca e segundo os termos do programa e das regras de participação (abaixo apresentados).
O prémio pecuniário de 5.000,00€ (cinco mil euros) será atribuído, no dia da cidade de Espinho (16 de junho), no próximo ano, ao autor cujo texto e cuja qualidade de escrita sejam reconhecidos por um júri constituído para o efeito (a saber, um representante da edilidade; o Prof. Dr. Pedro Serra, da Universidade de Salamanca; a Prof. Drª. Maria João Reynaud, da Universidade do Porto; o escritor João Pedro Mésseder e o Prof. Anthero Monteiro).
A propósito dos géneros considerados (carta, diário, texto ensaístico), contam-se, por certo, aqueles a que o homenageado mais recorreu e que mais o notabilizaram na sua produção escrita. São aqueles aos quais o produtor de um discurso se dedica e se propõe no que é, no que pensa e no que deseja ser ou ter; aqueles nos quais o escritor dá imagem(ns) intencionalmente criada(s), admitindo ao leitor a construção de representações na maior ou menor dependência do sabido sobre quem escreveu; aqueles em que o "eu" pode convocar uma multiplicidade de papéis, conforme a versatilidade da sua personalidade e das suas vivências (das mais consensuais às mais alternativas ou ousadas, das mais individualistas e confessionais às mais coletivamente configuradas num 'nós' que pode ter tanto de convergente como de crítico e dissonante); aqueles em que o 'eu' se pode dar a ler com matizes muito diferenciados, metamorfoseando-se e fazendo do registo tendencialmente autobiográfico uma condição que não contradiz o ficcional, o sentido "mascarado" das emoções, das vivências, dos retratos, das opiniões e das posturas onde o mito de Narciso de se (re)cria em espelhos mais ou menos deformado(re)s.
A escrita e os textos são um exemplo desses espelhos, onde Manuel Laranjeira se olhou e se deu a ver e a ler. Bastaria lembrar o Pessimismo Nacional (1907-8), enquanto obra de fôlego na índole do ensaio reflexivo sobre a condição de um tempo; as Cartas de Manuel Laranjeira (1943), volume póstumo prefaciado por Miguel de Unamuno, no domínio epistolográfico; o Diário Íntimo (1957), na confessionalidade de um 'ego' inconformado, que anseia pelo que o mundo não lhe parece querer dar - todos a corroborarem a seleção dos géneros e a mostrarem-se como obras ou exemplos textuais inspiradores de um autor na vida de um ser, de um espaço e de um tempo. Desta feita, interessará que os temas a eleger sejam os contemporâneos. E dos mais consensuais aos mais fraturantes, eles estão aí aos nossos olhos, ouvidos e outros sentidos, para motivar reações, visões, escritos ajustados à mediação criativa de quem esteja / está também atento à vida e a faz representar(-se) em texto. Saibamos vivê-la para que a morte não responda por ela.
Entre os géneros e o tema ficam também o programa e as regras de participação aqui divulgadas:
Para terminar, em beleza, não pode acabar este apontamento sem deixar de se referir que a sessão de apresentação pública contou com a leitura dramatizada de um excerto da obra do autor espinhense, além de um momento belo e sonoroso, conduzido por um par de alunos da Escola Secundária Manuel Laranjeira, tendo dado a conhecer (tocando piano e cantando) uma ária de registo erudito composta por um contemporâneo de Manuel Laranjeira: Francisco Lacerda ("Tenho tantas saudades").
A propósito dos géneros considerados (carta, diário, texto ensaístico), contam-se, por certo, aqueles a que o homenageado mais recorreu e que mais o notabilizaram na sua produção escrita. São aqueles aos quais o produtor de um discurso se dedica e se propõe no que é, no que pensa e no que deseja ser ou ter; aqueles nos quais o escritor dá imagem(ns) intencionalmente criada(s), admitindo ao leitor a construção de representações na maior ou menor dependência do sabido sobre quem escreveu; aqueles em que o "eu" pode convocar uma multiplicidade de papéis, conforme a versatilidade da sua personalidade e das suas vivências (das mais consensuais às mais alternativas ou ousadas, das mais individualistas e confessionais às mais coletivamente configuradas num 'nós' que pode ter tanto de convergente como de crítico e dissonante); aqueles em que o 'eu' se pode dar a ler com matizes muito diferenciados, metamorfoseando-se e fazendo do registo tendencialmente autobiográfico uma condição que não contradiz o ficcional, o sentido "mascarado" das emoções, das vivências, dos retratos, das opiniões e das posturas onde o mito de Narciso de se (re)cria em espelhos mais ou menos deformado(re)s.
A escrita e os textos são um exemplo desses espelhos, onde Manuel Laranjeira se olhou e se deu a ver e a ler. Bastaria lembrar o Pessimismo Nacional (1907-8), enquanto obra de fôlego na índole do ensaio reflexivo sobre a condição de um tempo; as Cartas de Manuel Laranjeira (1943), volume póstumo prefaciado por Miguel de Unamuno, no domínio epistolográfico; o Diário Íntimo (1957), na confessionalidade de um 'ego' inconformado, que anseia pelo que o mundo não lhe parece querer dar - todos a corroborarem a seleção dos géneros e a mostrarem-se como obras ou exemplos textuais inspiradores de um autor na vida de um ser, de um espaço e de um tempo. Desta feita, interessará que os temas a eleger sejam os contemporâneos. E dos mais consensuais aos mais fraturantes, eles estão aí aos nossos olhos, ouvidos e outros sentidos, para motivar reações, visões, escritos ajustados à mediação criativa de quem esteja / está também atento à vida e a faz representar(-se) em texto. Saibamos vivê-la para que a morte não responda por ela.
Entre os géneros e o tema ficam também o programa e as regras de participação aqui divulgadas:
(clicar em cima da imagem, para ver em tamanho maior)
Para terminar, em beleza, não pode acabar este apontamento sem deixar de se referir que a sessão de apresentação pública contou com a leitura dramatizada de um excerto da obra do autor espinhense, além de um momento belo e sonoroso, conduzido por um par de alunos da Escola Secundária Manuel Laranjeira, tendo dado a conhecer (tocando piano e cantando) uma ária de registo erudito composta por um contemporâneo de Manuel Laranjeira: Francisco Lacerda ("Tenho tantas saudades").
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