Uma série Netflix a não perder (2017). O livro do barcelonês Ildefonso Falcones (2016) é encontro a marcar.
"La Catedral del Mar" - 'pela Virgem' e 'Às armas'. É com estes dois lemas que se retrata a sociedade catalã do século XIV. A partir de uma pesquisa e investigação aprofundadas, o autor apresenta uma visão da prosperidade e da força da cidade nos tempos medievais. Com a história de fuga do servo Bernat (que salva o filho das mãos tiranas e brutas do senhor feudal que possuíra a esposa e faria da criança mais um escravo às suas ordens), fica a conhecer-se a vida e a singularidade de uma Barcelona encarada como espaço urbano cosmopolita, habitada por escravos, artesãos, judeus, nobres, mais a realeza que se impõe a Castela e a Mérida.
Um bairro humilde de pescadores (Bairro de La Ribera) afirma-se pela construção popular, coletiva e colaborativa do maior templo mariano do tempo: a catedral de Santa Maria do Mar. A gloriosa edificação faz-se a par da história de Arnau (Aitor Luna), uma criança tornada adulto e cidadão que conquista a condição de homem livre. Enquanto estivador, bastaixo (carregador de pedras), soldado e cambista, a evolução do filho de Bernat não deixa de criar invejas, forças que preconceituosamente o forçam a ver-se como servo, como fugitivo indigente cuja nobreza de carácter só no final da narrativa dará lugar ao nobre e aristocrata definitivamente reconhecido em termos sociais.
Trailer oficial da série 'A Catedral do Mar' (2017)
Conspirações torpes e vis, injustas expõem-no a múltiplos perigos, como a chantagem da mulher que amou e de quem teve de se separar (por ser casada); a peste negra que lhe levaria a primeira mulher e os amigos; a perversão e o ciúme interesseiro da princesa (Elionor) com quem viria a casar, por decisão de um rei que viu nesse matrimónio a oportunidade de se libertar de uma dívida enorme ao então bem-sucedido cambista; a depravação e a imoralidade de uma Inquisição, que mostrou o que de mais degradante, maquiavélico e demoníaco havia na instituição da Igreja.
Entre a a discriminação e segregação sociais, os interesses e jogos políticos, a intolerância religiosa e o materialismo reinantes, o amor virá a resistir e a triunfar, com Arnau Estanyol a assumir a sua paixão por Mar (Michelle Jenner), uma jovem protegida que cresceu, ficou mulher e acabou sua esposa, e mãe do filho que transporta para futuro o sinal da paternidade (sinal junto ao olho direito).
Baseado no romance histórico de Falcones, o enredo da vida de Arnau Estanyol é complexo, narrado desde as dificuldades da infância à condição de bastaixo e ao sucesso adulto do cambista. Na ausência de uma mãe (Francesca) que só vem a conhecer na pior fase da sua vida adulta, o protagonista tem na Virgem Maria a mãe celeste a quem recorre nas adversidades, aquela que o acompanhará desde os mais tenros anos, bem como ao irmão adotivo que também marcará o seu percurso. Fecha a série (com oito episódios) com a inauguração e a sagração da catedral, com Arnau, Mar e o filho num núcleo familiar com expectativas de futuro (ao contrário de um início que colocou Bernat, Francesca e Arnau em rota de fuga e dispersão).
Na linha das séries "Os Pilares da Terra" (2010) ou "Um Mundo Sem Fim" (2012), baseadas nos romances homónimos de Ken Follett, "A Catedral do Mar" é uma produção de Ana Rubio, num projeto da 'Diagonal Televisió', em coprodução com a Televisão da Catalunha.
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