Ao jantar, dava quase em indigestão ouvir o "Cuidado com a Língua!"
Num programa televisivo em que o fundamentalismo contra os empréstimos já soava a algo excessivo, a propósito do mau trato da língua vem o disparate dos outros, mais o descuido de quem produz o programa:
Excerto do programa televisivo exibido na RTP1
Isto de dizer que 'fala-se' é uma "forma reflexa do verbo falar" não lembra o diabo, para quem deve assumir a postura do cuidado que o título impõe.
Lá que se ouvisse "a forma da construção pronominal(izada) do verbo falar", tudo bem; agora, a forma reflexa não faz qualquer sentido, quando nem de um pronome reflexo se trata! O 'se' admite muitas realizações e configurações pronominais. No caso da frase 'Fala-se Português', é de assumir que o pronome 'se' assume a função sintática de sujeito, conforme se depreende da paráfrase 'Alguém (indeterminado) fala Português'; ou, então, conclui-se que se trata de uma marca de 'se' apassivante ("O Português é falado" < Fala-se Português").
Reflexo não é seguramente, dado que "fala-se" não é "fala a si mesmo / próprio" (como em 'lava a sua pessoa / o seu corpo' > 'lava-se', com o 'se' a configurar o papel de objeto em identidade com o sujeito sintático).
Também não é recíproco (pois não se trata de "fala um com o outro").
Também não é recíproco (pois não se trata de "fala um com o outro").
Assim sendo, vai confiar-se em quê / quem? Na "Flor" não é, porque "murchou"; em quem fez o trabalho para a "Flor" também não, porque não a "regou" bem. Quando o cuidado resulta em descuido / erro gramatical, mais se impõe que alguém acompanhe, linguisticamente, o que se difunde.
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