quarta-feira, 2 de outubro de 2019

O grau da desgraça

       E outra vez o Joker!

     De tantas vezes que escrevi sobre o programa televisivo Joker, e por más razões, haverá quem pense que tenho alguma coisa contra o programa. Não é verdade. Antes pelo contrário. Porém, continuo a achar que era escusado difundir o erro
       Hoje foi a vez de mais um, para acrescentar aos já apontados noutras ocasiões:

Programa Joker, exibido hoje na RTP1 (Foto VO)

      Isto de se concluir que 'homem' é um adjetivo pode constituir, desde logo, questão crítica quando se entende que, na maior parte das realizações do português, estamos perante um nome (tipicamente identificável pela possibilidade de ser antecedido por um determinante ou quantificador). Se é verdade que a variação em grau é uma propriedade comum nos adjetivos (ainda que não exclusiva), isso não permite concluir em definitivo que 'homem' (variando em grau) pertence à classe dos adjetivos.
      É de aceitar que a realização de frases como 'Ele é muito homem' ou 'Ele é tão homem como qualquer outro', ou mesmo 'Ele mais / menos homem do que outros que eu conheço' configura o termo sublinhado como propriedade / característica do 'ele'  - ou seja, um adjetivo, numa espécie de conversão, admitindo graduação superlativa (analítica, na primeira realização) e comparativa (nas seguintes). Já não tão aceitável é a superlativa relativa (* o mais / menos homem) ou até a superlativa absoluta sintética (? homenzíssimo).
     Seja como for, as possibilidades atrás mencionadas são as que mais se ajustam à classe dos adjetivos. Não é o caso de 'homenzarrão' nem de 'homenzinho', que, respetivamente, evidenciam a variação típica (e não criativa) do nome no grau aumentativo e no diminutivo (não é a mais produtiva para adjetivos, nestes ocorrendo apenas ocasionalmente).
      Em suma, para não chorar, a questão apresentada no programa Joker só me permite reagir em modo de filme e à Joaquin Phoenix:

Excerto do filme Joker (2019), de Todd Philips

     Depois venham dizer-me que a televisão é muito educativa e que cumpre serviço público! E pensar que pagamos para esta nódoa! Se não fosse o Palmeirim...

Sem comentários:

Enviar um comentário