É dia feriado, para celebrar a restauração da independência nacional; é dia de pesar, pelo anúncio da morte de um grande intelectual.
Aos 97 anos, faleceu Eduardo Lourenço. Dizem-no ensaísta, pensador, filósofo, crítico literário, escritor, interventor cívico, conselheiro de Estado. E, indubitavelmente, o foi. Sublinho o facto de, em tudo isso, ter sido um Professor.
Para quem dizia que não sabia fazer "outra coisa a não ser pensar", tomava este ato como o do "diálogo que temos connosco próprios". Era um pensador que parava para pensar, que buscava as melhores palavras para exteriorizar, traduzir um pensamento à espera da luz do dia. Da morte, dizia que não é pensável"; "é só uma coisa que falta, que nós nos estamos faltando". É tomada, assim, como "só isso: uma ausência. E essa ausência não pode ser dita, não pode ser escrita".
Na sequência da ausência neste dia, o Professor Carlos Reis relembra um episódio da vida de Eduardo Lourenço, quando este, no ano de 2010, pelo funeral de José Saramago (20 de junho), adquiriu, numa livraria, um exemplar do Memorial do Convento. Na folha de rosto escreveu: “Agora terás a eternidade para leres a maravilha que escreveste”. Instantes depois e de modo reservado, Eduardo Lourenço introduziu o romance na urna do nobel da literatura português. Pouco antes da cremação, evocava, assim, e singelamente, a eternidade, para reconhecimento da grandiosidade literária de um homem e de uma obra. E, assim, o romancista foi acompanhado do que escreveu, ambos notabilizados, porque o pensador quis preencher a ausência com o maior dos presentes: o d(e um)a obra d(e um)a vida.
Grande gesto de um homem grande. Obra bem escolhida (eu escolheria outra) para um romancista que Eduardo Lourenço talvez quisesse ter sido, mas preferiu pensar a vida, o Homem, Portugal e Ser Português no Mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário