quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Dia de muitas perguntas...

     ... e eu a precisar de respostas!

    Eu a entrar na sala, a vê-los sentados e a procurarem o meu olhar; a senti-los em ânsia... à espera do melhor momento. E, mal puderam,...
     - Não vai haver mais aulas?
     - Vamos todos para casa?
     - E o teste vai ser presencial?
     - Agora, o que fazemos? Quando é que recomeçamos?
     - Sempre é verdade?
     - Afinal, fecha ou não fecha? 

     Com tanta interrogação, respondia eu com reforço positivo: 
     - Boa pergunta, sim senhor!
     - Respondo-te já, pode ser?
     - Muito bem! Aguarda.
     - Duas perguntas?!... Estás curioso(a)? Também eu!
    - Ah se eu soubesse o que é a verdade! À Caeiro, diria que a verdade é o sol, mas também há a mentira, que é a noite.
     - Essa vai ser respondida à Ricardo Reis.

     Quando começavam a rir, agradeci-lhes o melhor dos sorrisos que me deram, apesar da máscara.
    Dei-lhes, então, a resposta, dizendo que o ia fazer de forma poética, citando as palavras de Ricardo Reis:

Uns, com os olhos postos no passado,
Veem o que não veem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, veem
O que não pode ver-se.

Porque tão longe ir pôr o que está perto —

A segurança nossa? Este é o dia,

Esta é a hora, este o momento, isto

É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora

Que nos confessa nulos. No mesmo hausto

Em que vivemos, morreremos. Colhe

O dia, porque és ele.


28-8-1933

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) 

Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). 

 - 154

"Colhe / o dia, porque és ele"

      Perguntei-lhes, então, se tinham percebido a resposta. Um disse logo que sim: que não nos devíamos preocupar demasiado com o passado ou com o futuro (um porque já passou, outro porque está por vir). Nada como viver o presente, o que está perto, passo a passo, para não o perdermos.
     Conclusão: para que fazem eles perguntas, se já sabem a resposta. É esta uma estratégia de sobrevivência de todos nós, para não nos deixarmos levar por recordações, memórias nem por ansiedades.

        Nestes tempos, Ricardo Reis, como te percebo (percebemos)!

4 comentários:

  1. As perguntas são preciosidades que nunca são respondidas, eis o norte da ciência :D

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  2. Eu diria que, na ciência, as perguntas são fundamentais, se houver abertura epistemológica para o problema, a dúvida que se coloca. As respostas, porque são construções do Homem, são sempre uma possibilidade ou perspetiva na construção da ciência. Não sei se esta resposta é o posicionamento deste homem das letras ou se é própria de alguém que ainda muito quer aprender.
    Pelo menos, na ciência da vida, creio que só se fazem aproximações ao norte, até ao momento que o vento chega e tudo dispersa. Às vezes demora chegar, de novo, ao norte; outras vezes, descobrimos que há sul, este, oeste e pontos intermédios que também podem ser muito interessantes.
    Obrigado pelo comentário.
    Abraço.

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  3. Belíssimo post, Vítor. Parece que visualizo as perguntas e respostas. E até os sentimentos. O poema e a imagem não podiam ser mais sugestivos.
    Vou tentar pôr em prática a 'estratégia de sobrevivência'.
    Um abraço
    Dolores

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    Respostas
    1. Muito obrigado, Dolores.
      Vamos todos tentar! Difícil a ataraxia de Reis, mas vamos sobreviver e fazer sobreviver o melhor que pudermos.
      Abraço bem apertadinho.
      VO

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