... e eu a precisar de respostas!
Eu a entrar na sala, a vê-los sentados e a procurarem o meu olhar; a senti-los em ânsia... à espera do melhor momento. E, mal puderam,...
- Não vai haver mais aulas?
- Vamos todos para casa?
- E o teste vai ser presencial?
- Agora, o que fazemos? Quando é que recomeçamos?
- Sempre é verdade?
- Afinal, fecha ou não fecha?
Com tanta interrogação, respondia eu com reforço positivo:
- Boa pergunta, sim senhor!
- Respondo-te já, pode ser?
- Respondo-te já, pode ser?
- Muito bem! Aguarda.
- Duas perguntas?!... Estás curioso(a)? Também eu!
- Ah se eu soubesse o que é a verdade! À Caeiro, diria que a verdade é o sol, mas também há a mentira, que é a noite.
- Essa vai ser respondida à Ricardo Reis.
Quando começavam a rir, agradeci-lhes o melhor dos sorrisos que me deram, apesar da máscara.
Dei-lhes, então, a resposta, dizendo que o ia fazer de forma poética, citando as palavras de Ricardo Reis:
Uns, com os olhos postos no passado,
Veem o que não veem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, veem
O que não pode ver-se.
Porque tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
28-8-1933
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.)
Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).
- 154"Colhe / o dia, porque és ele"
Perguntei-lhes, então, se tinham percebido a resposta. Um disse logo que sim: que não nos devíamos preocupar demasiado com o passado ou com o futuro (um porque já passou, outro porque está por vir). Nada como viver o presente, o que está perto, passo a passo, para não o perdermos.
Conclusão: para que fazem eles perguntas, se já sabem a resposta. É esta uma estratégia de sobrevivência de todos nós, para não nos deixarmos levar por recordações, memórias nem por ansiedades.
Nestes tempos, Ricardo Reis, como te percebo (percebemos)!
As perguntas são preciosidades que nunca são respondidas, eis o norte da ciência :D
ResponderEliminarEu diria que, na ciência, as perguntas são fundamentais, se houver abertura epistemológica para o problema, a dúvida que se coloca. As respostas, porque são construções do Homem, são sempre uma possibilidade ou perspetiva na construção da ciência. Não sei se esta resposta é o posicionamento deste homem das letras ou se é própria de alguém que ainda muito quer aprender.
ResponderEliminarPelo menos, na ciência da vida, creio que só se fazem aproximações ao norte, até ao momento que o vento chega e tudo dispersa. Às vezes demora chegar, de novo, ao norte; outras vezes, descobrimos que há sul, este, oeste e pontos intermédios que também podem ser muito interessantes.
Obrigado pelo comentário.
Abraço.
Belíssimo post, Vítor. Parece que visualizo as perguntas e respostas. E até os sentimentos. O poema e a imagem não podiam ser mais sugestivos.
ResponderEliminarVou tentar pôr em prática a 'estratégia de sobrevivência'.
Um abraço
Dolores
Muito obrigado, Dolores.
EliminarVamos todos tentar! Difícil a ataraxia de Reis, mas vamos sobreviver e fazer sobreviver o melhor que pudermos.
Abraço bem apertadinho.
VO