Entre a prosa e o verso, ficaram os livros do gin.
Homem das Belas Artes, rendeu-se à escrita (arte bela, pois sim). Em janeiro nascido, no mesmo mês desaparecido, foi escritor surrealista português.
Mário Henrique Baptista Leiria viu-se politicamente perseguido, preso pela PIDE, até se instalar no Brasil, onde desenvolve uma vivência voltada para a expressão literária. Entre finais da década de 40 e os anos 70, apresentou obra, até que em 1980 morre. A escrita revela o seu espírito indomado, irónico, pouco ou nada obediente aos poderes da realidade político-social do tempo; subversivo o bastante para desafiar os códigos morais e estéticos do (bom) gosto, nomeadamente os da tendência surrealista em que o situaram.
Cruzei-me com os seus Contos do Gin-Tonic (1973) e Novos Contos do Gin (1974), tão desconcertantes quanto fiéis a uma marginalidade própria de quem constrói um mundo às avessas, criativo e de libertação. Relembro, da segunda obra, uma pequena narrativa intitulada
ÚLTIMA TENTAÇÃO
E então ela quis tentá-lo definitivamente. Olhou bem em volta, com extrema atenção. Mas só conseguiu encontrar uma pera pequenina e pálida.
Ficaram os dois numa desesperante frustração.
Ficaram os dois numa desesperante frustração.
Não há dúvida que o Paraíso está a tornar-se cada vez mais chato!
Lá se foram a maçã e a serpente, mais a Eva e o Adão; também o Paraíso, dessacralizado na imagem e na palavra.
Revolucionário, homem de contracultura(s), experimentou a escrita do inconformismo; inventou mundos e vidas coloridos de bizarria, paródia, humor negro. Tudo fora de um convencionalismo do tempo que (não) foi o seu.
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