quarta-feira, 16 de março de 2011

Camilo: o que preferiu os ladrões às bestas?

      No dia do nascimento de um dos maiores novelistas da Literatura Portuguesa.

     O tempo vai apagando alguns sinais da memória. De figura proeminente nos programas de ensino do Português, no século passado, hoje Camilo Castelo Branco é figura praticamente residual no conhecimento que os alunos detêm sobre um dos maiores românticos nacionais. E, no entanto, quando alguns deles se cruzam com narrativas camilianas, a reacção não deixa de ser positiva, por vezes até intensa. O mesmo aconteceu com grandes escritores.
     Há 186 anos nascia quem viria a ficar órfão de mãe e de pai, aos dois e nove anos, respectivamente. As letras adoptaram-no, depois de um curso de Medicina abandonado no segundo ano, bem como outro de Teologia no Seminário Principal. Na poesia, no teatro, no jornalismo, nos romances ou nas novelas, Camilo não deixou de se afirmar como um exemplo, sem esquecer o polemista que, nas décadas de cinquenta e sessenta do século XIX, revelou um exercício de escrita e um domínio da palavra notáveis.
    Considerado por alguns como o primeiro escritor profissional, o autor de Amor de Perdição (1862) foi um retratista de costumes, de linguagens, de vivências, sendo capaz de os transpor para o escrito com matizes de uma oralidade que Alexandre Herculano e Eça de Queirós não deixaram de explorar, em tendências literárias (romantismo e realismo-naturalismo) que se confrontaram.
    A cegueira viria a limitar Camilo, a ponto de este pôr termo à sua vida, pintada do aventureirismo, do inconformismo, da boémia, da intensidade passional e da consciência do conflito de forças que grassa no ser romântico. Sentiu-se sem a íris que o ligava à vida ou a janela que lhe alimentava a alma; sem os amigos que o abandonaram, como o registou num dos seus últimos poemas.
    Assim se revelou "um Homem do Norte":

  
     Não admira, portanto, que numa das suas cartas tenha testamentado o seu desejo de sepultura no Cemitério da Lapa (conforme o testemunha carta a um amigo).

  
    Se, com a imagem da morte, cumpre o romântico o tópico da fuga ao seu infortúnio, Camilo Castelo Branco assim o fez para a vida que hoje é lembrada.

     Talvez na mente do autor primasse o provérbio "Antes a morte que a má sorte"; mas, para muitos dos seus leitores do tempo, talvez fosse mais adequado um sentido possível para "O que a vida nos dá a morte nos tira".

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