quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Dos temas do mundo

    Entre o muito que possa ter acontecido neste mundo, a ponto de se fazer notícia, hoje falou-se de um aniversário.

     Nos telejornais, desde ontem, muito se tem falado dos setenta anos de Caetano Veloso. Houve até direito a uma breve reportagem sobre o percurso do cantor e compositor baiano, identificado como um dos maiores na música brasileira.
     Ainda que não seja dos meus preferidos, reconheço-lhe a qualidade, o espírito indomável e a dimensão interventiva, criativa e criadora que tem vindo a assumir no panorama cultural brasileiro ou, como ele gosta de o dizer, na e com a língua portuguesa.
    Títulos como "Alegria, alegria", "Os Argonautas", "Felicidade",  "Leãozinho", "Eu sei que vou te amar", "Menino do Rio", "Você é linda", "Língua" ou "Sozinho" são alguns dos que recordo na memória do meu apreço, para me centrar naqueles a que associo a voz do cantor já com mais de 50 álbuns de cantigas.
      Em 1967, no vinil "Caetano Veloso", ouvia-se este "Alegria, alegria"


     ALEGRIA, ALEGRIA

Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou...

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não...

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...
Por que não, por que não...


    Os contributos ligados a outras vozes / interpretações são inúmeros na Música Popular Brasileira (MPB) - desde a irmã Maria Bethânia a nomes como Gal Costa, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Chico Buarque, Milton Mascimento, Djavan -, além dos registos e ensaios mais experimentalistas com grupos / cantores do Brasil contemporâneo (de que os nomes de Ivete Sangalo e Maria Gadú são exemplo, entre os mais conhecidos neste canto à beira-mar plantado).

   Uma prova de  que o tempo não é tudo: as roupagens do presente no passado ajudam a dar futuro, num homem que se prevê atual(izado) e com visão.

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