terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Algumas novas (já velhas) no ensino privado

    O problema das generalizações é sempre o mesmo: afetar aqueles que, pelo bom exemplo, escapam ao retrato geral que é construído.

     A reportagem da TVI ("Dinheiros públicos, vícios privados") sobre colégios e ensino privado é a exposição do que há muito já se ouviu na boca de pais, de alunos, de colegas de trabalho que vivem ou já viveram situações relacionadas com abuso de funções e cargas horárias excessivas, pressões nas classificações, aceitações ou recusas de matrículas, trocas de favores, jogos de influências.
     Os representantes do setor dizem que não; os que deles dependem também (não); imagens e vozes distorcidas testemunham práticas, no mínimo, dúbias e, no máximo, ilegítimas e irracionais; os que se acomodam ficam entre o alegado desconhecimento e a denúncia velada e os que confirmam aberta e frontalmente os problemas ficam entre o registo do delírio, das falsidades por provar ou das verdades inventadas (na perspetiva dos primeiros). Resta-lhes os dramas por que passaram, que os marcaram e que condicionam o sentido normal da sobrevivência tanto profissional como pessoal. 
     Entre as negações contraditas em documentos assinados por governantes, as escusas de dirigentes que dizem não ter conhecimento do que acontece nos seus estabelecimentos, as interrogações retóricas de quem mascara o que não diz ou quer dizer (sabe-se lá para fugir de quê) ou outras estratégias discursivas que desviam os verdadeiros problemas para enfeites ou efeitos decorativos (de "gosto" ou de "embelezamento"), estão em causa questões de colégios privados com contratos de associação, financiados pelo próprio estado (vinte e seis, de norte a sul do país, segundo a reportagem), sob o pretexto de a escola pública não suportar a inscrição de um maior número de alunos. Contudo, a evidência na duplicação de oferta educativa e de financiamento é inquestionável, para não falar na duplicidade de atuações: fica, para um mesmo destinatário (os alunos), o que não pode acontecer na escola pública a par de decisões particulares na distribuição de horários, nas adaptações da gestão curricular e nas infidelidades de práticas tanto junto de professores como de alunos. E a sociedade aceita e paga tudo isto.


      Entretanto, não se entende qual o papel da inspeção, quando há diretores de escolas, ex-presidentes de associações de pais, encarregados de educação, professores que reconhecem claros favorecimentos, sinais de riqueza exterior incompatíveis com a responsabilidade de trabalho contínuo, atento, integrador e ajustado na educação.

      Promiscuidades que ninguém deveria tolerar, a par de muitas outras como as que também grassam tanto nas escolas públicas como nas privadas: as de alunos subsidiados sem necessidade (a julgar pelas vivências e pelos percursos realizados após a escolaridade obrigatória e/ou secundária), as de formações integralmente pagas para quem pouco dá ou nelas investe (seja em estudo seja em trabalho), as de aceitação de tudo e mais alguma coisa em estabelecimentos interessados mais nos valores económicos "per capita" do que na valorização de uma formação qualificada / socializada, qualificante / socializante e qualificadora / socializadora - em suma, integrada, integral, integrativa e integradora.

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