A época de Natal parece propícia a complexidades ou dúvidas da língua.
Já foi aqui discutida a questão do Pai Natal (no que toca à variação em número). Hoje o motivo é mais comestível.
Entre as iguarias da mesa natalícia, contam-se, dizem uns, as filhós, dizem outros, as filhoses.
E uns e outros têm razão, considerando que há dicionários que admitem, respetivamente, a entrada filhó e filhós (ambas no singular): Dicionário da Língua Portuguesa (Lisboa, Verbo, 2006); Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2001 / Lisboa, Círculo de Leitores, 2002); Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa / Editorial Verbo, 2001); Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves (Coimbra, Coimbra Editora, 1966).
O facto de haver dicionários que só admitem a entrada 'filhó', de que é exemplo o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo (Lisboa, Bertrand Editora, 1996), leva a admitir que esta terá sido a forma original, como, aliás, na década de trinta do século passado, Vasco Botelho do Amaral o implicita no seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa (Porto, Editora Educação Nacional, 1938), ao registar o seguinte:
«Ouve-se com frequência: "Não é por aí que vai o gato às filhoses."
O plural de filhó é filhós. Mas esta forma é tomada vulgarmente por singular.
E o povo diz filhoses por analogia com nozes, vozes, etc.
Em português também já houve os plurais ouríveses, arrozes, etc.
Escrever filhoz é erróneo.»
Foto apresentada no blogue magiadoce
(in http://magiadoce.blogspot.pt/2010/12/filhoses-da-beira-baixa.html)
Assim, contemporaneamente toma-se o singular 'filhós' como variante de 'filhó', cada um dos termos apresentando a sua flexão no plural: o último com a simples adição do sufixo gramatical 's'; o primeiro com a adição deste mesmo sufixo antecedido de um 'e' epentético, tipicamente presente na formação do plural das palavras terminadas em 'r', 's' e 'z'.
Sobre este processo de uma forma plural poder também designar o singular, Evanildo Bechara refere-o como "plural cumulativo", na Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pp. 128-129).
Concessões que o tempo atribui a uma língua viva, a que os utilizadores não são obviamente estranhos interessados.
Já muitas vezes tinha tido esta dúvida: filhós ou filhoses? O que não sabia era que "filhós" também poderia ser singular.
ResponderEliminarE as que estão no prato também são apetitosas. Conto também fazer algumas amanhã e vou tentar enviar-te uma foto. Assim, pode dizer-se: Veja as diferenças (eh eh eh, como escreveria a IA).
Um beijinho
Dolores
Ai as calorias!
EliminarFico-me pelas rabanadas e pelos sonhos (já que estes são mais doces que outros bem mais azedos).
Beijinho.
IA? Chamaste por mim, Dolores?
ResponderEliminarPois aqui estou eu. Já cá faltava para dizer de minha justiça.
Começo pelo fim.
Gosto de sonhos! Todos eles, exceto os que se chamam pesadelos.
Com aqueles pelos quais te ficas, Vítor, tenho que ter cuidado. Muito açúcar!...
Com os outros, seja a dormir, ou acordada, posso eu bem com eles! Venham muitos! Não engordam e fazem a Vida melhor!
Se o David Mourão-Ferreira se tivesse atirado aos sonhos e às filhós no momento em que escreveu aquele poema(acho que ele gostaria mais de filhós do que filhoses!), provavelmente este não seria tão sombrio na verdade que exprime.
Cá por mim, independentemente da entrada no dicionário, são sempre bem apetecidas. O que convém é que o plural seja cumulativo só no prato. Nunca na boca!
Muito açúcar! Muito açúcar! !(Eh eh eh...Piada seca!)
E com todo este açúcar, deixo-vos, meus amigos, desejando-vos do fundo do prato, digo do coração, um Ano Novo verdadeiramente DOCE.
beijinho
IA
Um bom ano, depois de ótimas saídas e melhores entradas.
EliminarBeijinho.
VO
Pois, fazer as rabanadas bem as fiz (não sei é se ficaram bem!), mas não sei o que se passa com a minha máquina (ou será comigo?) que não consigo enviar a foto, como prometido.
ResponderEliminarSerá que amanhã ou depois conseguirei? Vou tentar. Até aos Reis ainda é Tempo de Natal (para não dizer que "Natal é quando o homem quiser"!).
Boas entradas em 2013 e Feliz Ano Novo!
Um beijinho
Dolores