À medida que as novas chegam acerca da trágica vivência na Sandy Hook Elementary School, cada vez mais se torna complicado entender que tudo isto possa ser real.
No sufoco, na angústia e no desespero de um momento e ambiente infernais, sabe-se que uma jovem professora tentou salvar um grupo de crianças da morte iminente.
No limite, a realidade tornou-se tão sórdida e grotesca que só pôde ter uma resposta excecional (para situações excecionais medidas excecionais): transformá-la num jogo, para que a sobrevivência acontecesse. Fechadas num armário, como se fosse um instante de esconde-esconde, houve crianças poupadas ao instinto assassino que um ser humano não conseguiu, por alguma razão, controlar.
Parece a realidade a imitar a ficção, como se esta pudesse predizer o que nos vai acontecer; ou, então, parece a ficção, o possível a lembrar o que pode vir a ser ou ocorrer, por mais longe que tal se queira.
Lembrei-me, então, de um excerto do belíssimo filme 'A Vida é Bela':
A prova de que o jogo está para a lição de sobrevivência é a tradução das falas do oficial nazi:
- Alguém aqui fala alemão?
- Estão aqui para trabalhar.
- Se não obedecerem levam um tiro na cabeça.
- Vocês estão aqui para servir a pátria alemã.
- Há 3 regras: não fugir, não criar conflitos e não pedir comida.
- Se obedecerem, não vos acontecerá nada.
- Mais uma última coisa: se ouvirem um apito é para responderem imediatamente.
- Trabalhando aqui, têm tudo o que acabei de vos falar.
No fim, o prémio anunciado pelo pai: quem ganhar o jogo receberá um tanque de guerra. Não sobrevive o progenitor para o ver, mas o jovem...
A história repete-se, não em grande tela; sem tanques de guerra, sem heróis ou heroínas. Ainda com a exterminação da vida real de inocentes reais.
Qualquer semelhança com a ficção é a pura, ou melhor, dura realidade.
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