sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Dos mitos do fim do mundo

       Depois da sequência mágica, vem a lembrança fatídica.

       Duas alunas abeiraram-se de mim, entre o envergonhado, o assustado e o curioso, colocando a questão: se eu acreditava que o mundo ia acabar no dia 21.
     Disse-lhes que sim... e que devíamos agendar uma festa de despedida para o dia anterior. Riram-se.
       O facto é que insistiram, na busca de algum apaziguamento. Queriam perceber a razão por que toda a gente fala nisso. E foi o fim do mundo para mim: perdi o meu intervalo.
     Fi-las lembrar o que elas tinham ouvido aquando da passagem do milénio; fi-las saber que já muito antes tinha sucedido o mesmo com todos os milénios; muito rapidamente dei-lhes a saber algumas vidências e profecias que, no tempo em que foram formuladas, não tiveram o resultado anunciado (felizmente, para alguns casos; infelizmente, para outros).
      O ano 2012 teve já tratamento fílmico, numa abordagem do que a civilização maia previa como ano crítico para um povo, num jogo numerológico em que o dia 21 de dezembro se apresenta como fatal.
     Hoje pode dizer-se que o "fim do mundo" para essa civilização foi muito antecipado.
   Sabe-se também que muitos dos conhecimentos, das crenças, das divindades, dos costumes associados condicionam a visão do mundo e nessa relativização tudo deve ser equacionado - nomeadamente a mudança de ciclos. A alteração de qualquer ritmo no que fosse o aparecimento da luz solar seria visto como um sinal divino e ameaçador, particularmente para uma entidade suprema para a vida desta civilização mesoamericana (Kulkulcán era a versão maia do deus Quetzalcóatl asteca). Um eclipse solar teria, por certo, um significado muito para além daquele que atualmente pode ser cientificamente descrito. E este seria apenas um incidente no meio de tantos outros a contemplar.
     Foi então que perguntei às minhas interlocutoras o que elas achavam se, neste mesmo dia, um satélite deixasse de funcionar e, por exemplo, inviabilizasse o funcionamento de todos os dispositivos eletrónicos no mundo (telemóveis, multibancos, telefones, televisores, rádios, internet, só para falar dos mais familiares). A resposta veio pronta e válida, para qualquer data do que ainda resta de 2012 ou de anos vindouros: "Era o fim do mundo!"

      Lá está: aos nossos olhos, com os nossos costumes, conhecimentos e vivências o fim do mundo também é falado / previsto / previsível, sem uma data concreta, com tanto de catastrófico quanto das dependências que temos a todo e qualquer momento. Conclusão: é o próprio homem a construir o fim do mundo (pelo que deve ter mais medo de si mesmo e das necessidades que cria).

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