É dia mundial da árvore e dia mundial da poesia (conforme indicação na XXX Conferência Geral da UNESCO, em 16 de novembro de 1999).
Com o objetivo de promover a escrita, a leitura, a declamação e o ensino da poesia no mundo, a efeméride do dia tinha de ser lembrada pela voz do poeta. Ando muito na "onda" de Caeiro, até por causa de uma questão que me foi colocada há dias e à qual vou ter de responder brevemente. Daí que me centre na prosa dos seus versos (tal como o mestre pessoano designava o formato da sua escrita):
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma cousa para trincar
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"
Parece um poema à moda de "Keep calm" (não tivesse o cartaz britânico aparecido cerca de duas décadas mais tarde, no início da II Guerra Mundial, para reforçar o estado moral inglês num cenário de desastre bélico contra os alemães). Não deixa de ser a mensagem de que preto e branco se comple(men)tam no real.
Com a prosa dos versos caeirianos regista-se a poesia da vida (também feita daquilo que muitas vezes não se quer).
Sem comentários:
Enviar um comentário