quinta-feira, 6 de março de 2014

É de Luso (e nada tem a ver com água)

    Tomada a região da Lusitânia como província romana, recebeu esta o nome por causa dos habitantes guerreiros (os 'lusitani') que longamente resistiram ao povo do Lácio. 
A Hispânia Romana
     Há ainda quem se refira a um rio grego (Lousios), pela matriz cultural grega, ou a uma figura mitológica (Luso) derivada de um erro de tradução da expressão latina «lusum enim Liberi patris», na obra Naturalis Historiae (de Plínio, o Velho), tomando a palavra 'lusum' ou 'lusus' como nome próprio. Segundo o eborense latinista André de Resende, Luso seria um companheiro ou um filho do deus do vinho, Baco - leitura proposta por Camões na estrofe 22 do Canto III d'Os Lusíadas (“Esta foi Lusitânia, derivada / De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo / Filhos foram, parece, ou companheiros...").
       Atualmente, o termo luso é usado para referir tudo o que seja relativo a Portugal (daí o povo luso ou a nação lusa), nomeadamente nas palavras compostas que o integram (por exemplo, tratado luso-americano).
     No que toca à composição de palavras, a base autónoma 'luso' ganha entretanto uma configuração fónica distinta no som vocálico final, como se de uma vogal de ligação se tratasse. Ainda assim, a existência autónoma da palavra é o que justifica a grafia proposta pelo Acordo Ortográfico (AO) para os compostos com hífen. Daí ler-se neste último o seguinte (Base XV - artigo 1º):

«BASE XV
Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares 

1.º Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.»

      Pelos sublinhados da minha responsabilidade, conclui-se que será de escrever 'luso-africano', 'luso-americano', 'luso-britânico', 'luso-canadiano', 'luso-chinês', 'luso-descendente', 'luso-francês', 'luso-indiano', 'luso-venezuelano' e outros lusos mais.

       Luso, lusitano, lusíada... é português, e (para citar o slogan publicitário) o que é nacional é bom. Talvez.

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