domingo, 26 de outubro de 2014

Porque há siglas que podem ser acrónimos

      Regressa-se aos acrónimos, desta feita na sua distinção face às siglas.

      Há conceitos que, por mais que se queiram diferenciar, têm zonas de contacto. Os próprios estudos assim o demonstram, por mais que haja razões para os querer em campos opostos.

     Q: Caro colega, como classificar, quanto ao processo de formação, as palavras OIM (Organização Internacional para as Migrações) e SOS? Ambas as palavras se podem pronunciar como uma palavra só. 
         De acordo com o dicionário terminológico, e com os exemplos apresentados, surgiu-me a dúvida.
        "Acrónimo: Palavra formada através da junção de letras ou sílabas iniciais de um grupo de palavras, que se pronuncia como uma palavra só, respeitando, na generalidade, a estrutura silábica da língua."
      "Sigla: Palavra formada através da redução de um grupo de palavras às suas iniciais, as quais são pronunciadas de acordo com a designação de cada letra.".
        Aproveito a oportunidade para lhe dar os parabéns pelo Blog e agradecer os esclarecimentos, sempre tão claros.

         R: Caríssima colega, é com prazer que lhe respondo à dúvida, além de, desta forma, também poder agradecer as palavras simpáticas dirigidas à CARRUAGEM 23.
          Começando por citar Margarita Correia e Lúcia San Payo de Lemos (em Inovação Lexical em Português, ed. Colibri, APP, 2005, p. 46), é de sublinhar que "aquilo que distingue uma sigla de um acrónimo é apenas a sua concordância/não-concordância com a estrutura silábica da língua em causa. Uma unidade como ONU é uma sigla (porque é formada pela primeira letra de cada uma das palavras que constituem a designação — Organização das Nações Unidas), mas é também um acrónimo (porque a sua estrutura silábica é conforme à estrutura do português). Por seu turno, unidades como CGTP ou UGT (União Geral de Trabalhadores) apenas podem ser consideradas siglas."
            Neste alinhamento, é possível afirmar que a grande distinção prende-se com o seguinte: ´
. sempre que a palavra é formada apenas pelas iniciais de uma expressão, encontra-se a diferença entre sigla e acrónimo pela realização fónica, com o último a admitir uma realização silabada - o caso de TAP, NATO ou UNESCO, cuja leitura se faz na base de uma estrutura silábica e não por indicação letra a letra (cf. [TAP], [NA][TO] e [U][NES][CO]);
. é necessariamente um acrónimo toda a palavra que, já na sua formação, integra, total ou parcialmente, sílabas da expressão que lhe serve de base (exemplo de REFER, termo construído a partir das sílabas de 'REde FERroviária' Nacional).
        Atendendo aos casos concretos que solicita, assumo que, comummente, os falantes soletram cada uma das letras do 'SOS' (para se referirem ao sinal de emergência / perigo ou a situações críticas que requeiram intervenção urgente), nunca as lendo como se de uma sílaba se tratasse. Daí ser uma sigla. O mesmo sucede com OIM.

         Em síntese: entre a soletração da sigla e a silabificação do acrónimo fica a distinção de dois processos de formação irregular de palavras -  tão irregular quanto poderem coexistir os dois, atendendo à forma como os falantes pronunciam o termo em causa.

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