Este é o natal que eu não queria.
Vendo os que correm atrás da(s) última(s) compra(s), são também visíveis os que não saem à rua nem vão atrás dela(s); os que não correm porque permanecem deitados sobre um cartão (talvez de uma caixa de encomendas desses bens que outros compram numa loja qualquer), na melhor das hipóteses sob um cobertor, a esconder o frio, a fome e a vergonha.
Então recordo a voz de Paulo de Carvalho, a música de Fernando Tordo e os versos de Ary dos Santos:
Então recordo a voz de Paulo de Carvalho, a música de Fernando Tordo e os versos de Ary dos Santos:
Vídeo de Fernando Filipe, para uma versão de "(Natal) Quando o Homem Quiser"
QUANDO UM HOMEM QUISER
Tu que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Ary dos Santos, in As Palavras das Cantigas
([1989] 1995)
Outras versões (e outras vozes) noutros tempos... e permanece o natal que já antes existia:
Versão do projeto musical 'Rua da Saudade'
(Gentes da Gente, numa montagem de César Azeitona)
E, afinal, este natal persiste (há muito)...
E não devia.
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