De cada vez que me falam de justiça e de igualdade de oportunidades, apetece-me desligar o botão.
Tudo a propósito de avaliação, alunos e a justiça que nem sempre a igualdade traz. Já o escrevi antes; retomo o tema, tanto pelas igualdades injustas como pela justiça desigual. Não é jogo de palavras. É antes a consciência de que nem tudo pode ser colocado no mesmo saco e qualquer um de nós (singular) tem de estrategicamente sobreviver no meio de muitos, no seio do plural. Não é fácil, por certo, quando as variáveis são múltiplas e a diferenciação e avaliação alternativas requerem uma gestão de tempo incompatível com a forma como muitas vezes a escola se organiza.
Frequentemente Einstein é citado justamente para dar conta de que, segundo ele, todos somos génios; contudo, quando se avalia um peixe pela capacidade que tem para trepar árvores, deixa-se que a vida deste seja encarada como completa inutilidade.
É um pouco isto mesmo o que se pode deduzir desta ilustração:
É um pouco isto mesmo o que se pode deduzir desta ilustração:
Sorte do macaco, por certo (ou, nos termos do examinador, "igualdade"). Justiça, onde estás?
Um pouco na mesma linha vejo outras situações, distintas das de testagem. Medidas de apoio, por exemplo. Dar uma mesma resposta a problemas de natureza tão diversa soa-me a manutenção destes últimos, com mais um: o de se ter adotado uma medida que, não resultando e não alterando o estado de coisas inicial, há que justificar. Ou seja, ampliam-se, inconvenientemente, os trabalhos, as dificuldades, os caminhos que não levam a lado nenhum.
Neste ponto de não chegada está ainda o exercício de adivinhações por que se entra, quando se pedem números para médias que reflitam resultados superiores aos do ponto de partida, como se, ao longo do processo, o retrocesso não existisse; como se o desvio nunca acontecesse; como se o erro, o engano, a falha e a perda não fizessem parte da vida. Confundir o conjuntural com o estrutural é tão erróneo como não ver no último o primeiro, por mais que este possa não ser o dominante. Tão absurda parece a situação quanto a bola de cristal ser baça e inútil no tempo gasto a prever uma certeza que não o é e que nem sempre se cumpre (mesmo no que de mais científico existe). E mesmo quando a opinião partilhada do absurdo surge, mais inconveniente se torna a insistência para avançar com o número. "Cheira", no mínimo, a compromisso tal qual Saramago o definiu: "liberdade que a nós próprios negámos" (in O Ano da Morte de Ricardo Reis - divisão III do romance), algo bem distinto daquele outro que vejo mais engajado com o princípio da vontade.
Quando se confunde inclusão com avaliação-classificação, sem reconhecer diferenciação e práticas alternativas assentes em criteriação em processo / construção / negociação, torna-se disfuncional o próprio sentido de educação e formação (regular ou não).
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