Assim que revejo a minissérie Os Maias, de João Botelho (2014), lembro o presente.
Talvez fosse de lembrar o passado. Porém, este tem características tão comuns com o presente que das duas uma: ou Eça era um visionário (antecipando no século XIX os vindouros) ou a realidade atual não consegue escapar ao que o outrora já ditou. E um pouco das duas também não é hipótese a descurar:
Excerto do 'Hotel Central' na minissérie Os Maias,
de João Botelho (2014)
Entre o empréstimo e o imposto se constrói a conversa ficcionada do Hotel Central, onde Cohen (político) é um dos mascarados e ridicularizados queirosianos; entre um e outro tem ainda e factualmente vivido muito português (se não for de dizer todo um país). Talvez desde sempre e por certo a continuar. É o que se me afigura pensar quando ouço um ministro dizer que o empréstimo feito por um banco da nossa praça não será pago com um cêntimo dos contribuintes; que serão os juros e dividendos da banca a fazê-lo daqui a trinta anos, também graças a um fundo de resolução bancária que mais parece um remédio milagreiro capaz de multiplicar milhões.
Não sei se cá estarei para o ver nessa altura, mas creio que, muito antes, haverá um novo imposto ou uma outra forma sinónima de "contribuir" para este empréstimo bancário. Não dá para acreditar nas certezas ou afirmações de alguns governantes, quando o (des)governo se evidencia, por exemplo, no apagamento de tempo na carreira de profissionais (refiro-me, claro, a nove anos, quatro meses e dois dias - no mínimo; ao tempo de serviço docente que, por ter existido, não se quer ver como tal, a pretexto de uma dádiva de dois anos, nove meses e dezoito dias ou sob o argumento de que outros congelaram o que, agora, os "benfeitores" repõem, em versão compacta).
O descrédito na palavra e nos atos é uma evidência presente, quanto mais no que venha a suceder daqui a três décadas (talvez não pelos mesmos, mas por outros afins na cor política ou na falta da verdade que, manifesta e retoricamente, é manipulada em detrimento de quem efetivamente trabalha e se vê espoliado de um tempo trabalhado, pago, descontado e que parece ser tratado como se virtual ou ficcionado fosse).
Triste de um país que se vê (des)governado assim - não há seguramente crédito no que se diz nem no que se faz (fez e se fará).
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