domingo, 17 de janeiro de 2021

Dúvidas na planificação da gramática

       Tanta coisa há a resolver que, às vezes, escapa a todos o essencial.

     Perguntavam-me há dias algo sobre a planificação de conteúdos gramaticais nas "Aprendizagens Essenciais" do Português, no nível secundário:

      Q: Olá, Vítor! O complemento do advérbio faz parte das Aprendizagens Essenciais (AE)? E o valor temporal? Agradecia que me esclarecesses, por favor, pois achava que não.

    R: Olá. A leitura das Aprendizagens Essenciais, quanto ao domínio da gramática, no ensino do Português do nível secundário, propõe algumas especificidades para cada um dos anos de escolaridade (10º, 11º e 12º anos). Fazendo uma abordagem comparativa dos conteúdos propostos, é possível verificar o conjunto de dados seguinte:

Leitura comparativa do domínio gramatical nas Aprendizagens Essenciais de Português (Secundário)

      Este é o "programa" gramatical referenciado para os três anos de escolaridade do secundário (10º à esquerda; 11º ao meio; 12º à direita).
      Ora, quando no ano terminal deste nível de ensino se lê "Realizar análise sintática com explicitação de funções sintáticas internas à frase, ao grupo verbal, ao grupo nominal, ao grupo adjetival e ao grupo adverbial", uma função sintática interna ao grupo adverbial é precisamente a do complemento do advérbio. Pode mesmo indicar-se que há uma progressão, complexificação neste ponto do domínio, pois, no 11º ano, interessa "Sistematizar o conhecimento dos diferentes constituintes da frase (grupo verbal, grupo nominal, grupo adjetival, grupo preposicional, grupo adverbial) e das funções sintáticas internas à frase" (ao nível superior da frase, portanto), enquanto no 12º o foco se situa ao nível interno dos grupos, para além do da frase. De referir, ainda, que já no 10º ano se prevê o trabalho do complemento do nome e do adjetivo (isto é, funções sintáticas internas ao grupo nominal e adjetival, respetivamente).
        Quanto ao valor temporal (depois da abordagem dos valores modais, no 10º ano, e dos aspetuais no 12º), não se poderá dizer que desapareceu do "programa" (se confrontarmos com o que acontecia nas Metas de Aprendizagem). Trata-se de um conteúdo gramatical que acabará por, implicadamente, ter de ser abordado a propósito dos processos de coesão textual contemplados no 11º e 12º anos (nomeadamente, quando se tem de utilizar / abordar / explicitar a correlação de tempos na construção de enunciados e a localização das situações nestes referidas).
        Uma leitura comparativa mais completa das Aprendizagens Essenciais, iniciadas há dois anos no 10º ano de escolaridade e alargadas ao 12º no presente ano letivo, pode ser encontrada aqui, de acordo com os domínios de aprendizagem considerados no ensino secundário.

       Hoje em dia, a preocupação é capacitar os professores de competências digitais (até se responde a um inquérito que visa diagnosticar os níveis de competência docente nesse domínio). Anuncia-se formação futura para tal, como prioritária; esquece-se que pouco disso vale, quando a formação didática e específica é tida como algo mais do que adquirido, do tipo "o ar que respiramos".

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