7 de Novembro de 1901 - data para nascer uma poetisa.
Mulher de viagens e de uma espiritualidade tornadas símbolos, entre a singeleza e o sentimento inconfidente.
Cantiguinha
Meus olhos eram mesmo água,
- te juro -
mexendo um brilho vidrado,
verde-claro, verde-escuro.
Fiz barquinhos de brinquedo,
- te juro -
fui botando todos eles
naquele rio tão puro.
Veio vindo a ventania,
- te juro -
as águas mudam seu brilho,
quando o tempo anda inseguro.
Quando as águas escurecem,
- te juro -
todos os barcos se perdem,
entre o passado e o futuro.
São dois rios os meus olhos,
- te juro
noite e dia correm, correm,
mas não acho o que procuro.
Meus olhos eram mesmo água,
- te juro -
mexendo um brilho vidrado,
verde-claro, verde-escuro.
Fiz barquinhos de brinquedo,
- te juro -
fui botando todos eles
naquele rio tão puro.
Veio vindo a ventania,
- te juro -
as águas mudam seu brilho,
quando o tempo anda inseguro.
Quando as águas escurecem,
- te juro -
todos os barcos se perdem,
entre o passado e o futuro.
São dois rios os meus olhos,
- te juro
noite e dia correm, correm,
mas não acho o que procuro.
in Viagem (1938)
Momento para relembrar um encontro com a poesia e os versos de Cecília Meireles.
Vítor,
ResponderEliminarBela escolha de poema. Embalada pelos versos curtos e leves, recordo uma aula, no ano passado, em que o poema foi lido. Os alunos entenderam a humana doçura das palavras breves. E o poema tornou-se barco para diferentes viagens.
Quase apetece jurar que Cecília Meireles tem bons motivos para sorrir. E para continuar a viver!
Abraço
Dolores
Com comentários destes, também singelos e compostos pela sinceridade e pela beleza das palavras simples,a vida ganha sempre um sorriso, numa vontade de correr "noite e dia" e de renovar o sentido da procura (porque, mais do que achar, interessa sempre procurar).
ResponderEliminarObrigado, amiga.
Abraço.
VO
Este seu que começa assim:
ResponderEliminarPus o meu sonho num navio
E o navio em cima do mar.
Depois abri o mar com as mãos
Para o meu sonho naufragar.
e continua por mais algumas estrofes belissimas também vale a pena. E que jeito dão estes versos.
Foi pensando em versos destes, e no que os professores fazem - ou não fazem - com a poesia na sala de aula, que Françoise Dolto escreveu:
«É uma grande ajuda libertadora, na adolescência ou na idade adulta, encontrarmos na nossa memória, guardados desde a infância poemas que aprendemos de cor e dos quais gostámos… São de uma grande ajuda, especialmente quando somos postos à prova por uma dor que não podemos exprimir. Como os reencontramos com reconhecimento, a esses poemas!... É este tesouro interior que faltará toda a vida aos que os professores não iniciarem no conhecimento dos poetas.»
Obrigado, António, pela atenção e pela partilha. Felizmente, os adultos também têm boas memórias, tesouro interior para os que se iniciaram no conhecimento de grandes obras e escritores fabulosos.
ResponderEliminarAbraço