terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Quando o destino morre de repente...

     Ecos de um título para evocar o nome de Alves Redol, esse escritor neo-realista que no ano de 1911 nascia e cuja obra literária se estenderia para lá do ano de 1967 (com a peça de teatro O destino morreu de repente) e do ano da morte do autor (1969).

    Entre a novela "Drama na Selva" (1932), publicada no Notícias Ilustrado de Lisboa, o romance Gaibéus (1939) - designação para os camponeses que ceifavam o arroz na zona do Ribatejo - e o conto "Nasci com passaporte de turista" (1940), António Alves Redol marca o início da sua escrita entre a prosa e a dramaturgia, reconhecidas pela sua natureza empenhada com a questão social, o mundo do trabalho e o retrato de alguma da miséria humana que se fazia sentir numa época dominada por figuras como Hitler, na Alemanha, e Salazar, em Portugal.


Estátua do Mestre Lagoa Henriques,
na cidade natal do escritor (Vila Franca de Xira),
numa leitura de um autor desligado dos bens materiais
e empenhado numa obra de escrita simples;
de uma nudez própria de quem dá a conhecer o homem,
o seu corpo e o esforço despendido no trabalho.
É a postura de quem desafia,
com os sinais do inconformismo
que também marcaram o autor do conto "Tatuagem" (1950) -
essa gravação na pele, com a dor da miséria.

     Um homem para quem a arte era:

"... um brilho estranho que se alimenta de tudo.
E nela é raro o que se perde inteiramente.
A arte para todos precisa de ser amassada por muitos,
e cada qual com a sua inteira personalidade.
No mundo dos homens, nada se perde."


(entrevista publicada na revista Plateia, 10 de Dezembro de 1961)

     Lembro-me de ter lido Constantino, guardador de vacas e de sonhos (1962), requisitado numa biblioteca itinerante que, à sexta-feira, pelo fim da tarde, chegava ao largo de Custóias para todos aqueles que buscavam, na leitura, o prazer de uma semana. Um pequeno livro a retratar a infância ribatejana de meninos-homens de que Constantino é um exemplo: menino travesso, que experiencia a vergonha de não passar na terceira classe; trabalhador do campo, a viver com os pais e uma avó que lhe dá a conhecer o sentido da responsabilidade. Retrato e preocupações de uma época.

Sem comentários:

Enviar um comentário