É quando se procura distinguir o que é metáfora de uma comparação que os filmes (para não mencionar outras coisas) nos traem.
Há um filme de coprodução francesa, belga e italiana, inspirado num pequeno romance chileno (ou novela, conforme também o designa o autor no prólogo), que procura representar o papel de um poeta (Pablo Neruda) a ensinar um carteiro acerca do que é uma metáfora, pelo recurso a comparações:
Excerto fílmico de 'O Carteiro de Pablo Neruda' (no original, 'Il Postino'), filme realizado por Michael Radford (1994),
com base na obra homónima de Antonio Skármeta, datada de 1985.
Contrariando o poeta (no papel do professor, ensinando ao aluno-carteiro) e o que muitos manuais explicitam (a metáfora enquanto comparação sem a partícula 'como'), evito que os meus alunos pronunciem tal coisa. Prefiro que falem de translação (conceito matemático que também devem aplicar noutras áreas de saber), transferência, reconstrução (por analogia, semelhança) do significado de uma palavra ou expressão por aproximação ou associação a um campo semântico distinto.
Assim, ainda que a lógica possa ditar que à sequência comparativa "o jovem corria parecendo um lince" (ou 'o jovem corria como / tal qual um lince') corresponde a metáfora "o jovem era um lince na corrida", é bom que assentem a noção da metáfora pela associação e identificação de características que (por estranhas que pareçam) sugerem a rapidez da corrida (do lince) feita pelo jovem.
É no plano da sugestão, mais do que no da definição, que a abordagem das figuras de estilo ou dos tropos retóricos se fundamenta. A funcionalidade significativa, os efeitos perlocutórios destes recursos ao nível da expressão (no fundo, o que se pretende transmitir com a utilização deles) são o essencial a explorar.
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