segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

No final de um feriado

     São tão poucos (os feriados) que têm de ser bem aproveitados.  Contudo, no final,...

   ... fica sempre aquela sensação de saber a pouco, tal como qualquer fim de semana a dar lugar a uma segunda-feira.
     Assim, a poucas horas de um sono (que dará lugar a mais uns dias de trabalho) e já cansado (por antecipação), recordo os versos de Pessoa:


      A par da poesia, a melodia.
   Já cantados por Zeca Afonso e Cristina Branco, os versos dão lugar a versões (musicais) - duas interpretações para tempos que o poeta da Geração de Orpheu não viveu, mas que, como qualquer ser humano, pôde espelhar nalguma da insatisfação progressiva (de qualquer era) que o poema traduz:
     Assim se ouviu o poema na voz de um cantor de intervenção:


     Na rememoriação de abril, fica a mesma letra com outra entoação e nova emoção - ainda com a repetição da primeira estrofe, fazendo lembrar, na canção, que sempre é possível mudar o cansaço e o "sono" com o espírito da revolução:


    Seja em tempos de ditadura seja nos da democracia, seja ainda no fim de um tempo ou instante feliz que um feriado representou, fica a forte consciência desta metafórica regressão da e na vida: não há bem que sempre dure. Se a viagem de comboio é sinónimo de passagem, sintomático é o processo de progressivo apagamento, cansaço e adormecimento, na descendente animação dos viajantes. Depois da euforia ruidosa (marcada nas sonoridades consonânticas, nos risos e no entusiasmo sugeridos na estrofe inicial), a contenção e a moderação surgem nos silêncios criados (na estrofe segunda) até que a ironia se impõe (na estrofe final e, particularmente, no verso "Mas que grande reinação!"), lembrando que o tudo também dá em nada. Assim se prossegue nesta metáfora da vida: euforia, moderação, disforia; força juvenil, moderação adulta e velhice tão próxima da infância.
     Mudanças no espírito (e também no físico); trajetos, percursos, viagens, numa viagem que se faz também com o tempo e em qualquer idade.

    O que podia ser uma simples viagem de comboio (o que ficaria sempre bem nesta "carruagem") resulta numa leitura outra - a de um viajante que, por ora, está "à janela" (a ver passar), "nem sim nem não", talvez à espera de chegar... Onde? Quem sabe, a Portimão ou ao período de férias que não cabe num feriado, não! 

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