Catorze anos depois, regresso à apresentação de um livro.
Convite feito quando só havia título. Imediatamente aceite. Não podia ser de outra forma. Nem de profecia se tratava; apenas de confiança e amizade.
Convite feito quando só havia título. Imediatamente aceite. Não podia ser de outra forma. Nem de profecia se tratava; apenas de confiança e amizade.
Aconteceu ontem, com a publicação do novo romance do Manuel Maria. Dia 30 de outubro, ou melhor, 30 do 10, para se começar a compreender melhor a presença de tanto múltiplo de cinco: um título com cinco palavras (começado com "Quinto..."), vinte e cinco capítulos, cinco anos a separar a referência a uma carta de Vieira datada de 1658 (a abrir a história) e a citação de uma outra de 1663 (no final da narrativa), o quinto romance do autor... no ano de 2021 (cuja soma dos algarismos também dá cinco). A não ser coincidência, nem sei que diga!
Segundo o Tarot, é número de espiritualidade, de comunicação e comunhão, de evocação e descida do sagrado sobre o material; um aviso espiritual que deve encontrar eco no plano físico; um apelo para a libertação da matéria. Eis o mito do Quinto Império e o protagonismo de Vieira.
Da esquerda para a direita: o editor, o apresentador, o autor e o representante da Junta de Freguesia
- Auditório Horácio Marçal, em Paranhos (Foto DG)
Quinto império - Profecia de Perdição é romance para ler em tempos como os da atualidade, onde os valores de tolerância e respeito pela diferença, conquista de liberdade, fraternidade, afirmação de vontade e de amor, luta pelo bem são para firmar, no garante da própria dignificação humana.
No exemplo que o protagonista dá e no percurso que faz, há as duas faces da moeda: a do ideal pelo qual pugna, mais a da negação a que o votam, na traição que perversamente constroem. De um lado, António Vieira; do outro, os que supostamente estariam consigo na cor, no pensamento e na missão, mas cuja fé foi mais movida por interesses e jogos de poder bem diferentes. No desconcerto e nas intrigas mundana(i)s destes últimos, resistiu o ideário congregador do autor da História do Futuro, feito da comunicação e comunhão que muitos não quiseram entender e destas se distanciaram.
Nas caras e nas máscaras descobre-se a utopia pretendida, apenas seguida pelos que têm espírito livre e convicção de princípios. Os que se regem pela vontade.
No exemplo que o protagonista dá e no percurso que faz, há as duas faces da moeda: a do ideal pelo qual pugna, mais a da negação a que o votam, na traição que perversamente constroem. De um lado, António Vieira; do outro, os que supostamente estariam consigo na cor, no pensamento e na missão, mas cuja fé foi mais movida por interesses e jogos de poder bem diferentes. No desconcerto e nas intrigas mundana(i)s destes últimos, resistiu o ideário congregador do autor da História do Futuro, feito da comunicação e comunhão que muitos não quiseram entender e destas se distanciaram.
Nas caras e nas máscaras descobre-se a utopia pretendida, apenas seguida pelos que têm espírito livre e convicção de princípios. Os que se regem pela vontade.
Personagens de bem cruzam-se no(s) mar(es) da vida, sem esquecer que nele(s) há ondas revoltas e naufrágios; tempestades a colocar em risco império(s) de humanidade. Entre o Brasil e Portugal, no seio de um tempo que convive com o sagrado e o profano, com a frivolidade e a afetação do teatro da vida, Vieira vive a defesa de um sonho que parece não ser o da sua terra nem o dos seus superiores:
Quem
havia de crer que em uma colónia chamada de portu-gueses se visse a Igreja sem
obediência, as censuras sem temor, o sacerdócio sem respeito, e as pessoas e
lugares sagrados sem imuni-dade? Quem havia de crer que houvessem de arrancar
violentamente de seus claustros aos religiosos, e levá-los presos entre
beleguins e espadas nuas pelas ruas públicas, e tê-los aferrolhados, e com
guardas, até os desterrarem? Quem havia de crer que com a mesma violência e
afronta lançassem de suas cristandades aos pregadores do Evangelho, com
escândalo nunca imaginado dos antigos cristãos, sem pejo dos novamente
convertidos, e à vista dos gentios atónitos e pasmados? Quem havia de crer que
até aos mesmos párocos não perdoassem, e que chegassem aos despojos de suas
igrejas, com interdito total do culto divino e uso de seus ministérios: as
igrejas ermas, os batistérios fechados, os sacrários sem sacramento enfim, o
mesmo Cristo privado de seus altares, e Deus de seus sacrifícios? Isto é o que
lá se viu então: e que será hoje o que se vê, e o que se não vê. Não falo dos
autores e executores destes sacrilégios, tantas vezes, e por tantos títulos
excomungados, porque lá lhes ficam papas que os absolvam. Mas que será dos
pobres e miseráveis Índios, que são a presa e os despojos de toda esta guerra?
Que será dos cristãos? Que será dos catecúmenos? Que será dos gentios? Que será
dos pais, das mulheres, dos filhos, e de todo o sexo e idade? Os vivos e sãos
sem doutrina, os enfermos sem sacramentos, os mortos sem sufrágios nem
sepultura, e tanto género de almas em extrema necessidade sem nenhum remédio? (cap. X, pág. 59)
Perante tanto desconcerto, a saída e a salvação têm de ser reafirmadas - e aí cabe falar da felicidade, da utopia, do ideal a atingir (libertos do enleio que a terra cria).
Nas linhas do romance cosem-se expectativas e frustrações, libertação e prisão, castigo e perdão - porque no jogo da vida há sorte e azar, felicidade(s) e tristeza(s), ilusões e desilusões que só o tempo pode curar (seja no sentido de corrigir seja no de conservar - com o "sal da terra", talvez, para usar uma expressão do nosso orador seiscentista).
Desafio(s) - o que Vieira quis assumir, enfrentar, confrontar; o que o autor construiu na obra que quis criar e me deu a honra de apresentar.
Um muito obrigada pela brilhante apresentação, Vítor!
ResponderEliminarNo local, não o fiz mas, aqui, levanto-me e bato palmas ao apresentador e, em especial, à leitura da Mensagem!
Um grande beijinho!
Muito obrigado, Sílvia.
EliminarFico feliz por ter correspondido (até porque o autor do romance não merecia menos do que aconteceu).
;)
Beijinho.
Muito obrigado, Vítor!
ResponderEliminarFoste brilhante! Só não me espanto, porque te conheço há muito tempo. A ti e à tua competência. Bem se diz que, uma vez publicada, a obra deixa de ser do autor. Mais uma vez o provaste. O que foste capaz de ler a partir do que escrevi… Quanta competência, Vítor!!!
Já na sessão de autógrafos, várias pessoas – várias mesmo – me disseram que, após terem assistido à tua apresentação, estavam ansiosas por o começar a ler: benefício meu, mérito totalmente teu.
Não tenho palavras que possam gritar bem alto quanto te estou grato. Mas sei que o fizeste por amizade e que esta é total e inequivocamente recíproca.
Deixo-te, publicamente, o meu imenso abraço de gratidão.
Manuel Maria
Estimado Manel,
EliminarDando crédito às tuas palavras simpáticas e elogiosas, só posso dizer que é brilhante quem recebe motivos para tal. Tiveste o que mereces. Fico feliz com as tuas palavras e o apreço de muitos dos presentes; por ter correspondido à aposta. Que o 'Quinto Império - Profecia de Perdição' seja tão bem sucedido como foi recebido à hora do seu lançamento.
Forte abraço, amigo.