terça-feira, 19 de outubro de 2021

67 anos depois - o reconhecimento oficial

      Uma cerimónia e uma homenagem justas para "Um Justo entre as Nações" português.

       Um exemplo humano a reconhecer, sem dúvida. Pena que, oficialmente, seja passado tanto tempo e depois de a voz da consciência interior ter sido confrontada com a injusta miséria infligida no final da vida. Como mais vale tarde do que nunca, chegou a devida homenagem, porque se impunha. Não foi no mês do nascimento (julho) nem no da morte (abril) Qualquer outro serve, pois este é um homem para lembrar a todo tempo pelo que fez; pelo testemunho que deu.

Aristides de Sousa Mendes - o cônsul de Bordéus (1885-1954)

    Aristides de Sousa Mendes causou incómodo ao poder, desrespeitando o dever de um diplomata: obedecer às diretrizes de um governo nacional(ista) mais interessado em se aliar à força maior da(s) ditadura(s) do tempo. Recusou seguir as ordens de Salazar (e o conluio que acabava por ter com Hitler). Teve um processo disciplinar por isso; sofreu, sabendo que ia ser castigado. Todavia, foi numa cultura de desobediência, e de consciência, que acabou por dar uma lição ao mundo: devolveu, com os vistos que assinou, a vida a milhares de perseguidos; olhou o outro na sua diferença e na sua desgraça, respeitando-o e libertando-o de uma morte certa à mão dos nazis. Fê-lo(s) chegar a Lisboa, tornada porta da esperança e da liberdade para mais de dez mil pessoas.

Jardim dos Castanheiros, junto à Casa do Passal
com árvores plantadas por judeus que visitaram a localidade e homenagearam o seu "salvador" (Foto VO)

     Foi este o legado de um homem. Ou melhor, de um Homem; de um Português, que assumiu um ato de consciência excecional: o de que sempre esteve certo (por mais que os poderes do tempo não o apoiassem).

     Hoje, precisamente há 81 anos, era lida uma sentença que castigava um justo; hoje, neste mesmo dia, um corpo mantém-se longe da capital, na sua terra de Carregal do Sal (Cabanas de Viriato), enquanto uma lápide evocativa é colocada no Panteão Nacional. Relembra um ser humano que salvou a vida de muitos outros e fez da sua a luta por valores e causas com sentido(s) de Humanidade. 


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