quinta-feira, 26 de maio de 2011

Adjectivos relacionais: qual a relação?

       Porque há classificações à espera de alguma estabilização...
   
      Volta-se à necessidade de construir pontes, as quais usam as margens que as sustentam, sem que as terras sejam da mesma natureza ou espécie.

     Q: Colega, segundo o Dicionário Terminológico, os adjectivos admitem as subclasses do qualificativo, numeral e relacional. A questão é: e os antiguinhos gentílicos e toponímicos? Deixaram de existir? São apenas adjectivos?

      R: Começo por reconhecer que, acima de tudo, são adjectivos e que bom é quando os alunos assim o reconhecem pelas propriedades associadas: caracterizam o nome com o qual se combinam e, tipicamente (sublinho), variam quanto ao número, ao género e ao grau.
    Em termos de subcategoria, os velhinhos gentílicos e toponímicos enquadram-se nos agora designados adjectivos relacionais. Considerando que estes últimos são os que derivam de uma base nominal, reconhece-se a adequação desta designação pela paráfrase "natural, procedente ou originário de + N'. Assim, 'comunidade brasileira' (Brasil > brasileira) apresenta o adjectivo 'brasileira', formado a partir de um nome, tal como 'comida chinesa' (China > chinesa) ou 'literatura moçambicana' (Moçambique > moçambicana).
   O mesmo sucede com a referência à residência ou local de nascimento: 'concelho gondomarense' (Gondomar > gondomarense), 'grupo portuense' (Porto > portuense), 'jovem londrino' (Londres > londrino).
   Acrescento, ainda, o caso dos adjectivos que têm como base nomes próprios de pessoa (os antropónimos). Daí a 'lírica camoniana' (Camões > camoniana), os 'textos garrettianos' (Garrett > garrettianos) ou as 'novelas camilianas' (Camilo > camilianas).
     É um dado que a paráfrase atrás referida ('natural, procedente ou originário de + N') permite, genericamente, reconhecer este subtipo de adjectivos; todavia, não deixa de haver muitos que podem ser usados ou como relacionais ou como qualificativos em contextos distintos.     
    Comparem-se os casos seguintes:
    i) produto industrial (relacional)    Vs     quantidade industrial (qualificativo)
   ii) direitos humanos                     Vs         gesto humano
   iii) sepulturas faraónicas              Vs      gastos faraónicos
      Se há um sentido original que se associa a um uso quase sempre relacional, a interpretação qualificativa é derivada e obtém-se a partir de um traço significativo extraído do sentido original (por exemplo, o excesso, a superioridade em 'faraónico'; a sensibilidade em 'humano'; a quantidade em 'industrial').

      ..., para que nem tudo seja admissível, pelas noções que muitos têm e nem sempre acertam.

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