domingo, 14 de outubro de 2018

Não há três sem quatro

     A contar pelas versões do filme, já não chega dizer que não há duas sem três.

    2018 é o ano para o 'remake' em terceira versão de "A Star is Born", depois do original datado de 1937. Mais de oito décadas passadas, Janet Gaynor dá lugar a Lady Gaga (depois de Judy Garland e Barbra Streisand). Um tanto de musical com um outro tanto de romantismo são ingredientes para misturar e derivar numa receita a ver na tela.

Trailer Oficial de 'A Star Is Born' (remake de 2018)

     A história consabida do músico, em final de carreira, que estimula e vê ascender artisticamente a mulher amada é o pano de fundo melodramático comum para um enredo quase secular, desta feita composto também pelo protagonismo que a música dá a ouvir na banda sonora. Os planos de 'backstage' de alguns dos concertos ou os preparativos para os shows conjugam-se nesse propósito de representar o percurso regressivo de Jack(son) e a ascensão de Ally (essa 'aliada' que se afirmou e se singularizou como estrela). Se a versão de 1976, com o par Barbra Streisand-Kris Kristofferson, tornou Evergreen melodia oscarizada, o mesmo se prenuncia com muitas das canções agora interpretadas pela dupla Lady Gaga-Bradley Cooper. 
      Talvez o dueto de "Shallow" seja um dos casos a considerar:

Montagem imagem-música (VO) para "Shallow" de 'A Star Is Born' (2008)

      SHALLOW

Tell me something, girl
Are you happy in this modern world?
Or do you need more?
Is there something else you’re searching for?

I’m falling
In all the good times
I find myself longing for change
And in the bad times I fear myself

Tell me something, boy
Aren’t you tired trying to fill that void?
Or do you need more?
Ain’t it hard keeping it so hardcore?

I’m off the deep end, watch as I dive in
I’ll never meet the ground
Crash through the surface
Where they can’t hurt us
We’re far from the shallow now

In the sha-ha- sha-ha-ha -llow,
In the sha-ha- sha-ha-ha- llow,
In the sha-ha- sha-ha-llow,
We’re far from the shallow now


    Também a cantiga final da película - "I'll never love again", numa homenagem a Jack(son) Maine (Bradley Cooper) e na interpretação de Ally Maine (Lady Gaga) - cumpre a marca de um fecho arrasador, para uma narrativa emocionalmente crescente, com a dupla romântica a afirmar-se para lá do que a morte possa impor. Uma breve analepse final traduz essa declaração de amor de Jack, num sentimento que se vê ameaçado pela doença, por um ciúme mitigado de incapacidade e perda progressivas, por jogos de interesse colaterais, por (pres)supostas experiências ou representações que o passado não deixa(ou) apagar.
     A música aproximou Jack de Ally (mesmo quando a necessidade do álcool parecia ser maior); pela música ambos sofreram, vivendo (na composição e na voz) numa entrega que nem sempre se revelou harmoniosa, mas fez vingar o que os uniu. O sonho, tornado real,  revelou-se duro, intenso, sofrido, com a "luz" a incandescer o que de mais doloroso e irónico a vida (também) tem.

      Assim nasce(u) uma estrela, dando brilho também a uma outra que a morte não conseguiu apagar.

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