quinta-feira, 10 de maio de 2012

E tudo passa... e o que fica?

    Entre a aporia e a ataraxia de Ricardo Reis, hoje, nas aulas, falou-se de abdicação, apaziguamento, resignação, aceitação das leis fortes da vida e que o Homem não controla.

     Entende-se que a reflexão de Blimunda sobre a vida e a morte, em Memorial do Convento, não ande longe de uma estratégia de sobrevivência, tal como a filosofia epicurista pintada de algum estoicismo, no heterónimo clássico pessoano.

PASSAGEIRO

Corre o rio,
fluem as imagens,
as flores na jarra, a murchar...

Outras virão,
mais umas outras passarão
e o curso de água faz-se clepsidra, sem parar...

Sucedem-se as mortes na vida:
das que nos apartam fisicamente
às que nos apagam, nos secam enquanto somos.

Nós, girassóis,
procuramos sol;
voltamos costas à sombra;
buscamos o mar.

Nele há sempre um horizonte,
um futuro, mediado pelas ondas, com altos e baixos...
marés revoltas, ruidosas, batendo no areal da praia...
leito sereno, embalo cerúleo, deixando o nosso corpo boiar...

num tempo feito de ciclos... a navegar.




   Surgiu, então, a canção: de como a dor passada se torna apaziguamento presente, para poder haver futuro...

   
A música: não foi feita no cravo de Scarlatti, teve as notas que o compositor deu à poesia, trouxe alguma harmonia (mais ou menos momentânea) a um tempo, a um instante que de ânimo se disfarçou. 

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