quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Quarta-feira de cinzas...

      Porque nas cinzas é possível encontrar o renascimento, na fénix da palavra.

      Na arte prédica de Vieira há muito de reflexivo e exemplar a superar o tempo da produção (barroco) - qualquer semelhança com a realidade não é pura ficção.
      A intemporalidade dos sermões é tão evidente quanto o excerto seguinte, na voz de Luís Miguel Cintra, outrora oralmente produzido pelo próprio Padre António Vieira, no ano de 1672, em Roma, na Igreja de S. António dos Portugueses.

Registo Áudio do Sermão de Quarta-feira de Cinzas 
(dito por Luís Miguel Cintra, na Igreja de São Roque)

      Reflexão sobre (o triunfo d)a morte, a transitoriedade e a efemeridade da vida, mais da vanidade humana, parte-se do mote bíblico "Memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris" (Génesis, 3:19) para dar lugar à glosa oratória, tornada discurso de intervenção política face à acusação e à acumulação de riquezas; às desigualdades sociais, numa violenta advertência ao poder, nomeadamente o da Igreja.

      No ritmo da voz e da palavra, nestes tempos críticos que nos fazem sentir mais mortos do que vivos, fica o pensamento de Vieira: "Se levantados, vivos; se caídos, mortos; mas ou caídos ou levantados, ou mortos, ou vivos, pó: os levantados pó da vida, os mortos pó da morte" (cap. IV). Bom era que quem tem poder se visse pó presente, para que não nos tornasse já em futuro pó da morte nesta vida.

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